terça-feira, 17 de outubro de 2017

OS ABUTRES


Não tenho nenhuma simpatia pela ministra da Administração Interna, assim como nada me pesa na consciência enquanto eleitor. Nunca votei em nenhum dos partidos políticos que até hoje formaram governo em Portugal, perpetuando o estado absolutamente miserável da paisagem rural portuguesa num país reiteradamente assolado pelo flagelo dos incêndios. Sinto-me por isso à vontade para manifestar a minha total repugnância pela forma como certos jornalistas têm abordado a tragédia deste ano, manipulando descaradamente as afirmações da ministra Constança Urbano de Sousa e do secretário de Estado Jorge Gomes, assim como algumas do actual Primeiro-Ministro. Um exemplo recente, logo oferecido pelo Google em qualquer pesquisa relacionada com os incêndios de ontem, é o post manhoso de Bento Rodrigues no Facebook, usando sem qualquer pudor os nomes das vítimas em Pedrógão para fazer demagogia com uma frase descontextualizada da ministra Constança Urbano de Sousa. Veja-se a sequência acima. É preciso explicar a má intenção por detrás do post do jornalista da SIC? Perante isto, a proliferação de imagens com animais carbonizados, veículos calcinados, casas em chamas… é morbidez anódina.

10 comentários:

rff disse...

A Ministra é um erro de casting e foi infeliz nas declarações sendo que a sua demissão imediata somente serviria para pegar fogo à muito bem instalada comunidade comentadora... Nada mais que isso.
No país dos campeões europeus de futebol faltam recursos que saibam apagar fogos e salvar populações de forma profissional perante alterações climatéricas brutais. Algo que exige mais do que as habituais boas-vontades e algo que vai para além das solidárias amizades das vizinhanças e afins...
Mais esta infeliz tragédia teve pelo menos o condão de calar o maior fala-barato de todos (por isso faz sentido ser presidente..) que de facto tem o perfil ideal para as palavras de circunstância dos funerais.. Está no lugar certo, esse.
António Costa tem razão em tudo o que disse. E disse a verdade. Agora tem 6/7 meses para resolver a sério o problema se for mesmo capaz de o resolver... Se não for, tem que tirar as devidas conclusões.

Ivo disse...

"animais carbonizados, veículos calcinados, casas em chamas". É a realidade. E de anódino não sei o que haverá para quem perdeu tudo ou quase tudo. Morbidez levou-me a ver mais horas de televisão nos últimos dois dias do que provavelmente nos últimos dois meses. E é interessante que acuses a comunicação social de manipulação,.quando é exatamente o sr. PM que temos um master dessa técnica.
Quanto ao.comentário anterior, sobre ter razão em tudo o que diz e dizer a verdade, de acordo. Mas de acordo só porque não disse o resto, que é o que falta da verdade, o que aliás decorre do que eu disse no parágrafo anterior.

rff disse...

A CRISTAS é que ainda vai safar isto...

hmbf disse...

Anódina é a partilha despudorada da desgraça face à manipulação dos jornalistas. Há relatos impressionantes (como este: http://leitor.expresso.pt/#library/expressodiario/17-10-2017/caderno-1/temas-principais/por-favor-pai-nao-pares ) que não mostrando tudo de um modo sensacionalista conseguem dizer muito mais.

Uma dúvida: por que é que afirmas que o actual primeiro-ministro é um master da manipulação?
O que é que falta ao primeiro-ministro dizer? Que resto é esse?

Carlos Ramos disse...

Este fim de semana o fogo chegou perto de minha casa. Vi o trabalho dos bombeiros e ofereci-me para ajudar no que pude. Não vi lá jornalistas, o fogo deveria ser demasiado pequeno para eles. Optaram por fogos maiores que dão maiores espectáculos. Não tenho televisão nem internet desde domingo. Compenso isso com sessões continuas de cinema, nesse aspecto agradeço ao fogo. Também agradeço ao fogo o ter-me poupado à tristeza absoluta que é a actual comunicação social. Fazer da tragédia um show de shares, do sofrimento um entretenimento. E depois os políticos usarem-se disto para tentarem fazer o que não conseguem através da luta politica convencional. Dá-me nojo, recuso-me.

Ivo disse...

Quanto ao sensacionalismo Henrique, estou bem nas tintas para o que dizem ou como dizem os jornalistas. Ouço e vejo as pessoas entrevistadas. "agora vêm as pessoas, parece turismo" "ardeu tudo, está tudo ardido, mss para ele (Costa) o país está bom" "nem 500 bombeiros nos safavam" "não tenho nada que comer" "só existia a GNR em pânico" "vim de gatas por baixo do fogo". Isto fica. As perguntas dos jornalistas? Esqueci.
Relatos como o que indicas hão-de existir às dezenas. IP3. Para quem conhece...

A manipulação não é de agora, é desde sempre. Jornalistas tipo cordeirinhos. Nem sei se será manipulação ou simples falta de qualidade do jornalismo. Mas que internamente manipula, ah isso garantidamente. Costa e os seus caciques.

O resto? Estive há pouco a ver a repetição d"O Outro Lado" na Rtp3, disseram tudo. O Pedro Adão e Silva na sua segunda intervenção (se não me engano) disse tudo o que penso.

Ivo disse...

E já agora, quanto.ao Bento, não querendo justificar nem sei se tão pouco será a razão, mas ele é natural de Coimbra. E então digo-te: O meu amigo de infância de Mira, eu que nasci em Coimbra, a "minha" empregada doméstica, que também foi minha mãe, de Penacova, a minha amiga de Oliveira do Hospital, outra da Pampilhosa da Serra, as termas das Caldas onde o meu pai ia quando eu era miúdo, a nascente onde muitas vezes fui buscar água com o meu avô, as cerejeiras junto à povoação de onde toda a minha família, pais, avós, bisavós, é originária, Vila Nova de Tazém. E onde ainda, felizmente, tenho família. Imagina pegar num mapa, traça uma linha pelos locais que enumerei. Desenha um retângulo em volta. Pinta de preto. É isso que as pessoas vêm.

Portanto, a Sr.a que meta as férias num sítio que eu cá sei. Sei que esta frase tem pouco de dignificante, e não estou a fazer qualquer trocadilho com a sua carta de demissão. É simplesmente o que apraz dizer depois de ouvir declarações como as dela. Que de descontextualizado não imagino o que possam ter.
Ela é que andava descontextualizada. Ou aparentemente não, já que ao que diz agora pediu a demissão em Junho. E bem.

hmbf disse...

No Domingo, vinha de um dia bem passado com a família para os lados de Cascais, vi o horizonte em chamas. No dia seguinte, enviei à família uma mensagem: «Um dos dias mais tristes da minha vida.» Não está aqui em causa como cada um de nós sente esta tragédia, nem o grau de dor nem a forma de expressão subjectiva dessa dor. O meu partido nunca foi governo, e muitas das medidas que tem defendido nestas matérias ao longo dos últimos 40 anos, sob acusação de repetirem sempre a mesma cassete, estão em sintonia com as soluções apresentadas pelos especialistas - alguns deles até no lado oposto em termos de política partidária (penso, por exemplo, em Gonçalo Ribeiro Telles). Simplesmente me recuso a transformar esta tragédia num argumento político, o que, aliás, devia envergonhar quem está a fazê-lo, caso essa gente tivesse vergonha na cara. Basta ler isto para percebê-lo: https://www.abrilabril.pt/nacional/psd-e-cds-pp-cortaram-mais-de-20-milhoes-na-defesa-da-floresta . Ou até isto: http://daliteratura.blogspot.pt/2017/10/censura.html . Veja-se, aliás, a ironia: os mesmos que reivindicam para si o sucesso da economia nacional nos últimos anos, estando fora da governação, enxotam para o lado responsabilidades nesta matéria. Que dizer a isto? O problema aqui em causa é muito complexo, mistura décadas de incúria, de desleixo, de incultura, de abandono do mundo rural, de terrorismo económico, de capitalismo selvagem... É um problema de fundo, não é de superfície. Daí que as emoções não sejam boas conselheiras neste momento.

rff disse...

O problema de fundo, além de toda a complexidade inerente à questão e que não é pouca, é também aquilo em que como povo nos tornámos. O Presidente Marcelo é o herói imaculado da nação, um defensor de todos os oprimidos e indignados, um príncipe dos afectos. Eu vejo gente intelectualmente insuspeita a babar-se perante o tipo. Ora bem Marcelo fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala,fala,fala, fala como sempre falou de todos os assuntos com aquele à-vontade de profundo conhecedor de todas as matérias. Não ponho em causa a sua brilhante carreira universitária, conheço pessoas que foram suas alunas, e dizem muito bem, certo! Mas aquele homem nunca teve de tomar uma decisão na vida além daquelas triviais de qualquer cidadão, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala,fala,fala, fala mas nunca teve de liderar equipas que se vissem. As duas oportunidades que se lhe conhecem de potencial Executor falharam em toda a linha provavelmente porque quer os eleitores de lisboa, quer os militantes do PSD perceberam a tempo que ele fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala,fala,fala, fala e fala e nunca teve grande aptidão para construir algo digno de registo...

Marcelo não tem obviamente culpa alguma do sucedido a não ser ter ido para pedrógão de forma intempestiva com as televisões atrás atrapalhar os já de si atrapalhados e desorganizados operacionais...

Não estou a fugir da essência do problema, cada um com o seu papel, e o Presidente tem as funções muito bem delimitadas. Houve claramente responsabilidades políticas, falta de organização e liderança dos já por si péssimos recursos disponíveis face à gravidade dos desafios, mas não posso deixar de constatar esta unanimidade irritante e pacóvia à volta de quem fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala,fala,fala, fala.... e de quem não se conhece nenhum tipo de execução, obra, o que seja a não ser falar...

Abraço e Saúde

hmbf disse...

Muito bem.