Desde muito pequenas que as minhas filhas ficaram a saber
quão inútil é pedirem-me desculpa por qualquer coisa errada que tenham feito.
Quando era professor, dizia sempre aos meus alunos que escusavam pedir-me
desculpa pelos erros que cometessem. No trabalho, que ninguém se atreva sequer
a pedir-me desculpa. Sempre detestei pedidos de desculpa, são o princípio da
desresponsabilização. Pedir desculpa é varrer para debaixo do tapete, é fazer
esquecer o essencial, é desviar a atenção das responsabilidades. As desculpas
evitam-se, costuma dizer-se. Não está mal. Ainda há pouco, Passos Coelho dizia que não tinha dificuldade nenhuma em pedir desculpas. Há muito que percebemos isso. Ele e outros como ele não têm dificuldade alguma em pedir desculpas, é a forma mais fácil de poderem continuar a cometer os mesmos erros. PSD, PS, CDS têm todos as mãos sujas nesta matéria. Todos. Proliferam por aí dados históricos que o confirmam. Não é difícil encontrá-los nos últimos 43 anos. Capitalismo selvagem, mundo rural ao abandono, promiscuidade económica, terrorismo ecológico, incúria, desleixo, ao qual devemos juntar também, sim, uma tremenda falta de civismo que continua a grassar na nossa sociedade, incultura, desrespeito pelo património, tudo isso resulta nesta miséria de um Portugal em ruínas que não foram poucos a denunciar. Se vão agora pôr trancas na porta? Não sei. Depois de Armamar em 1985, Águeda em 1986, Caramulo em 2003, depois dos 16 bombeiros mortos em 2005, depois de tantos anos consecutivos a lamentar perdas, parece-me legítimo temer que tudo mude... para ficar na mesma. A fotografia ao alto foi tirada num lugar que já não existe em pleno Pinhal de Leiria. Julgo ser suficientemente ilustrativa do cuidado e do amor que os portugueses dedicam ao seu mais rico património histórico, uma paisagem que temos vindo a destruir como se nada fosse connosco. Tudo queimado, até parece que não teríamos todos, cada um de nós na medida das suas consciência e acções, que pedir desculpa pelo sucedido, valesse de alguma coisa fazê-lo.
4 comentários:
Havendo pronto um pedido de desculpa, "ah e tal até parece que as coisas se resolvem assim", não havendo, "ah e tal que falta de tudo e mais alguma coisa que nem é capaz de pedir desculpa"... Não havendo demissão da ministra, "ah e tal inconcebível não se demitir a ministra", demitindo-se a ministra, "ah e tal coitadinha da senhora, até parece que a demissão da ministra serve para alguma coisa"... etc e tal. Não sei se haverá aqui algum padrão outro a escapar aos meus poderes.
Mero invólucro histórico de sociedades organizadas para a gestão de interesses económicos, este Governo representa Portugal. Revoltem-se os "excitados" contra o Estado como um Todo que o é e do qual fazemos necessariamente parte enquanto cidadãos.
Pretender resumir a Responsabilidade sobre o que recentemente aconteceu à Culpa de meia dúzia de ministros em funções é, das duas uma: estar a avaliar distraidamente O Problema, ou estar a usar o problema para transformar algo ou alguém em particular, esse sim, como bode expiatório da nossa própria responsabilidade.
sobre esta e outras mais catástrofes a vir - enquanto o animal humano não se transformar de todo, ou se dar conta que a dita superioridade relativamente aos outros animais, concedida pela inteligência ou uma consciência (sem entrar em questões de existência delas nos animais não-humanos), clama um mais alto nível de responsabilidade no tomar conta do mundo e dos outros, ao invés de tornar o mundo imundo e desabitado - vem muito a propósito o verso de cesariny, para esta e outras mais catástrofes a vir, em portugal e em qualquer outro lugar: TODOS SEM EXCEPÇÃO TÊM A MÁXIMA CULPA!
todos, sem excepção, sofrem de uma espécie de «síndrome de pilatos».
um triste abraço
Olá Henrique,
Estamos de luto. Quando se está de luto é normal bater e rebater os assuntos, mas espero que quando sairmos do luto a palavra seja recomeçar. Para recomeçar é preciso trabalharmos todos. Por isso, e dado que gere um blog com alguma visibilidade que eu muito aprecio, que tal publicitar aqui alguma informação sobre acções de replantação da floresta, ou então organizar uma no Pinhal de Leiria? Eu estou a juntar amigos para o fazermos na serra que me é mais próxima. Estou a informar-me sobre o como e o quando e depois vou deitar as mãos à terra. Bom trabalho para todos. Sofia
Divulgarei com todo o gosto todas essas acções, desde que devidamente avaliadas e acompanhadas por especialistas em planeamento e ordenamento territorial. O voluntarismo, apesar de compreensível, nem sempre é o melhor conselheiro nestes momentos. Já agora, uma notícia de 2014: http://media.rtp.pt/extra/eventos/vamos-reflorestar-portugal/ . Vouzela já estava no mapa.
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