CHÃO DE LARVAS
Devolvo
à nascente o fluxo, ao mar a indomável
surpresa da corrente
Posso
agora olhar
ileso os poros, repousar
a cabeça entre os líquenes — substância
minha austera, meu
chão de larvas e fadiga.
Albano Martins, in Hífen — cadernos semestrais de poesia, n.º 1, Outubro de 1987 / Março de 1988, direcção de Inês Lourenço e de Maria das Graças Mano, Novembro de 1987, p. 2.
2 comentários:
Caro Henrique,
Tive o privilégio de ser aluno de Albano Martins entre 1967-69 no Liceu de Évora. Quero deixar aqui um testemunho de gratidão a este meu mestre de Latim, que conseguia tornar vivíssimas as aulas de uma língua "morta" e despertar nos alunos o amor pelos clássicos, mas também pela literatura e pela cultura em geral. Naqueles tempos de silêncios impostos, ele, não sendo nosso professor de Literatura Portuguesa, ousava dizer-nos que havia uma História da Literatura melhor que a adoptada, mas que não estava à venda, acrescentando os nomes dos autores: Óscar Lopes e António José Saraiva! E, depois da matéria que leccionava, ainda arranjava tempo para nos falar de Rilke (chegou a emprestar-me as Cartas a Um Jovem Poeta), da poesia de Raúl de Carvalho (seu amigo) ou do primeiro romance de Almeida Faria (Rumor Branco), que também tinha sido aluno naquele liceu.
Ao longo da vida ficámos amigos, como ficou, aliás, de outros seus ex-alunos, e muitas vezes trocámos cartas onde me dava conta dos seus projectos literários, da sua obra, mas também procurava indagar, com interesse e amizade, sobre o desenrolar da meu percurso de vida.
Em suma, este homem que à poesia dedicou uma vida, quer através da sua obra, que através das traduções que fez dos clássicos e outros autores de língua espanhola, bem merecia que quem de direito fizesse luz sobre o seu nome, de modo a que a sua obra fosse mais conhecida dos leitores.
Até sempre, querido Mestre, querido Amigo!
Luís Maia Varela
Muito obrigado pelo seu testemunho. Saúde,
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