segunda-feira, 2 de julho de 2018

UMA VOZ DIFERENTE E AUTÊNTICA

As dificuldades para um autor português são tremendas. A nossa cultura é marginal. Imitar o Faulkner e tutti quanti de sério que se publica no Lá Fora um rematado disparate. Li, aqui em Massamá, Kafka e Beckett, por exemplo. Anotei o que é que não se pode fazer aqui — com esta gentinha, esta luz, esta paz (mesmo podre e mesquinha). Encontrar o tom nosso, a necessidade de nos definirmos e manifestarmos perante esses modelos e descobrir outros princípios, logo uma voz diferente e autêntica, eis a minha preocupação. Tudo o mais é paródia e humilhante. Mas vá lá dizer-se isto a estes literatos lisboetas dos cafés e das páginas literárias!


Luiz Pacheco, numa carta a Laureano Barros, datada de 1/11/70, in O Grilo na Varanda — Luiz Pacheco para Laureano Barros (Correspondência, 1966-2001), Tinta-da-China, Junho de 2017, p. 98.

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma verdade de todos os tempos.

Anónimo bom