Clint Eastwood está à beira dos 89 anos de idade.
Confiando no IMDB, estreou-se como actor nos anos de 1950. Tem mais de meio século de experiência, como actor, primeiro, e como realizador, desde 1971.
Neste domínio, são muitos os filmes que assinou para ficarem na história. Westerns
como O Rebelde do Kansas (1976), Justiceiro Solitário (1985), Imperdoável
(1992). O inesperado, pelo romantismo, As Pontes de Madison County (1995). Uma
homenagem ao jazz: Bird – Fim do Sonho (1988). Filmes de guerra, tais como As Bandeiras
dos Nossos Pais (2006) e Cartas de Iwo Jima (2006). São diversos os géneros que
abordou, sendo difícil encontrar no seu curriculum enquanto realizador um filme
medíocre. The Mule/Correio de Droga (2018) é o mais recente, e vem reposicionar, isto é, reforçar, isto é, consolidar, isto é, reafirmar o actor e o realizador Clint Eastwood entre os maiores que o cinema gerou.
Feito à medida de um homem com quase 90 anos, The Mule conta a história de um
improvável correio de droga na fronteira que separa os EUA do México. Tendo em
conta a actualidade, o tema é deveras sensível. E não deixa de ser irónico que, apesar do cartel ser mexicano, o transportador seja um velho veterano tipicamente
norte-americano. Podemos ensaiar várias leituras do assunto, até tendo em conta
as posições políticas do protagonista. Mas nestas matérias prefiro deixar de lado factos biográficos. Não estou particularmente
interessado nas posições políticas de Eastwood, ainda que me pareçam mais
politicamente incorrectas (ou controversas) do que tantas vezes se pretende insinuar. Desde a série Dirty Harry que o problema se coloca, sobretudo devido a um
suposto elogio do voluntarismo que arrasta consigo excessos de
violência e inúmeros equívocos.
Se uma coisa é a realidade,
outra é o cinema, e a verdade é que os filmes de Eastwood procuraram sempre
reflectir a realidade de pontos de vista que não me parecem nada conservadores.
Antes pelo contrário, há nas suas histórias uma problemática da
ambivalência. Com o velho Earl Stone deste The Mule não é diferente, a
complexidade da personagem surge enquadrada na complexidade da própria
existência. Não é possível tomar partido, só é possível tentar compreender. Sem desculpabilizar, o que o próprio não faz.
Com uma vida dedicada ao cultivo de flores, Earl negligenciou a família. Ofereceu Às flores uma atenção que nunca teve para com a ex-mulher e a filha. Marido ausente, pai ausente. O mundo moderno arruinou-lhe o negócio. A Internet, esse elemento abstruso num filme que também por aí pretende elogiar as formas clássicas do cinema, é inimiga não só do seu optimismo como lhe oferece uma visão pessimista do futuro. Mas o que pode esperar da vida um homem com 90 anos? Sem perceber muito bem como, Earl torna-se correio de droga. Com o dinheiro, paga o casamento da neta, remodela o bar dos veteranos de guerra, faz coisas socialmente positivas, aceitáveis, recomendáveis. É um simpático criminoso que não mata ninguém, que até interrompe o trabalho para ajudar um jovem casal “negro” a mudar um pneu furado no meio do nada.
Inocente ou culpado? No meio de tudo, sobressai a face conservadora e clássica do autor num elogio da família enquanto valor supremo. Não devemos colocar o trabalho à frente da família, a família deve vir em primeiro lugar. O diálogo que mantém com o agente Colin Bates, interpretado por Bradley Cooper, é memorável, quer pela sua simplicidade, quer pela tensão que transporta numa cena onde o final ainda se encontra em aberto, onde nenhum desfecho se prevê.
Com uma vida dedicada ao cultivo de flores, Earl negligenciou a família. Ofereceu Às flores uma atenção que nunca teve para com a ex-mulher e a filha. Marido ausente, pai ausente. O mundo moderno arruinou-lhe o negócio. A Internet, esse elemento abstruso num filme que também por aí pretende elogiar as formas clássicas do cinema, é inimiga não só do seu optimismo como lhe oferece uma visão pessimista do futuro. Mas o que pode esperar da vida um homem com 90 anos? Sem perceber muito bem como, Earl torna-se correio de droga. Com o dinheiro, paga o casamento da neta, remodela o bar dos veteranos de guerra, faz coisas socialmente positivas, aceitáveis, recomendáveis. É um simpático criminoso que não mata ninguém, que até interrompe o trabalho para ajudar um jovem casal “negro” a mudar um pneu furado no meio do nada.
Inocente ou culpado? No meio de tudo, sobressai a face conservadora e clássica do autor num elogio da família enquanto valor supremo. Não devemos colocar o trabalho à frente da família, a família deve vir em primeiro lugar. O diálogo que mantém com o agente Colin Bates, interpretado por Bradley Cooper, é memorável, quer pela sua simplicidade, quer pela tensão que transporta numa cena onde o final ainda se encontra em aberto, onde nenhum desfecho se prevê.
Do elenco
fazem parte Dianne Wiest e Andy Garcia, todos mais velhos (mas tão bons).
Neste filme para actores crescidos, convém sublinhar a presença de
Alison Eastwood a fazer de filha de Eastwood. Faz lembrar o que sucedeu com Henry Fonda e Jane Fonda em On
Golden Pond/A Casa do Lago (1981). Se alguma mensagem pessoal, de cunho
familiar, existe aqui, não é matéria em que devamos meter-nos. Mas que é
bonito, lá isso é. Como as flores que surgem no princípio e no fim, símbolo de dádiva e de cuidados e do lado luminoso da vida que realmente importa cada vez mais não negligenciar.
4 comentários:
Mais de um século de experiência? Com 89 anos?
meio, obviamente. escapou o meio. escapa-me sempre o meio.
E sempre à procura de redenção
Anónimo, é verdade.
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