ARTE POÉTICA
Entre tantos ofícios exerço este que não me pertence,
tal patrão implacável
obriga-me a trabalhar noite e dia,
com dor, com amor,
debaixo de chuva, entre catástrofes,
quando se abrem os braços da ternura ou da alma,
quando a doença fere as mãos.
A este ofício me obrigam dores alheias,
as lágrimas, lenços que nos saúdam,
as promessas a meio do outono ou do fogo,
os beijos do encontro, os beijos do adeus,
tudo me obriga a trabalhar com as palavras, com sangue.
Nunca fui dono das minhas cinzas, meus versos,
rostos obscuros os escrevem como quem dispara contra a
morte.
Juan Gelman (n. Buenos Aires, Argentina, 1930 – m. La
Condesa, Cidade do México, 2014), versão de HMBF a partir do original coligido
por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina,
vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García
Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, p. 302.
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