LABORATÓRIO CENTRAL
Quando me encontrar numa montanha russa
com o meu primeiro extraterrestre
por certo temerei um pouco a sua figura
humana diferente
como defronte ao poema que me fala
após uma noite mal dormida,
como mudo a quem devolveram a palavra,
e por certo tentarei explicar-lhe que a nossa cabeça
também é um laboratório central onde se produz uma
reacção
em cadeia de fenómenos eléctricos e fenómenos
químicos
que alguns alimentam com alucinogénios com
álcool
(mais modesto, eu
recorro ao fatal cigarro da vida)
com levitações de
uma só volta
pelo
inconsciente estruturado como uma linguagem,
e que é aí nessa pequena zona onde se produzem
todas as
tormentas e as festas do texto,
esta memória que sonha com as palavras
da insónia, mas
por certo ele fugirá
entre as árvores até à sua nave-mãe,
deixando-me
novamente só
no meu
escritório, sobre estes papéis.
Teremos vencido essa batalha antes de começar
a navegar pelo silêncio.
Alfredo Veiravé (n. Gualeguay, Entre Ríos, 29 de Março de
1928 – m. Resistencia, Chaco, 22 de Novembro de 1991), versão de HMBF a partir
do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo
XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por
Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 296-297.
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