quinta-feira, 13 de junho de 2019

UM (ANTI)POEMA DE ALFREDO VEIRAVÉ




LABORATÓRIO CENTRAL

Quando me encontrar numa montanha russa
com o meu primeiro extraterrestre
por certo temerei um pouco a sua figura
   humana diferente
como defronte ao poema que me fala
após uma noite mal dormida,
como mudo a quem devolveram a palavra,
e por certo tentarei explicar-lhe que a nossa cabeça
também é um laboratório central onde se produz uma reacção
em cadeia de fenómenos eléctricos e fenómenos
   químicos
que alguns alimentam com alucinogénios com
   álcool
   (mais modesto, eu recorro ao fatal cigarro da vida)
   com levitações de uma só volta
   pelo inconsciente estruturado como uma linguagem,
e que é aí nessa pequena zona onde se produzem
todas as
tormentas e as festas do texto,
esta memória que sonha com as palavras
   da insónia, mas por certo ele fugirá
entre as árvores até à sua nave-mãe,
   deixando-me novamente só
   no meu escritório, sobre estes papéis.

Teremos vencido essa batalha antes de começar
a navegar pelo silêncio.


Alfredo Veiravé (n. Gualeguay, Entre Ríos, 29 de Março de 1928 – m. Resistencia, Chaco, 22 de Novembro de 1991), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 296-297.

Sem comentários: