quarta-feira, 19 de junho de 2019

UM POEMA DE ALFREDO VEIRAVÉ


JÁ NÃO HÁ LUGAR PARA A FRIVOLIDADE

Todos têm um limite; as leituras no jardim
absorvem o desejo das plantas húmidas e o mundo visionário
só fala aí com alguns seres animados de olhos abertos e profundos.
(Entre os eleitos e os ternos animais inocentes o espaço passa
como um equilibrista que abre o guarda-sol para não cair no vazio.) Há
diferentes formas de fracasso quando o jovem trapezista sente medo
nas prisões do pesadelo,
ainda que no fundo saiba que algozes e torturadores
juntam-se no inferno da história, caindo as folhas sobre eles
para convertê-los em terra ignóbil. Por isso agora canta e olha
apenas para a frente / a vida não dará explicações: o corpo sabe
evitar as lanças venenosas do rancor, quem sabe uma forma vedada do amor
não correspondido. Às vezes os limites abrem-se e o voo começa;
então, já não há espaço para as frivolidades tal como sabem
os que regressam da guerra ou do exílio errático (do poema).



Alfredo Veiravé, versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 294-295.

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