JÁ NÃO HÁ LUGAR PARA A FRIVOLIDADE
Todos têm um limite; as leituras no jardim
absorvem o desejo das plantas húmidas e o mundo visionário
só fala aí com alguns seres animados de olhos abertos e
profundos.
(Entre os eleitos e os ternos animais inocentes o
espaço passa
como um equilibrista que abre o guarda-sol para não cair
no vazio.) Há
diferentes formas de fracasso quando o jovem trapezista
sente medo
nas prisões do pesadelo,
ainda que no fundo saiba que algozes e torturadores
juntam-se no inferno da história, caindo as folhas sobre
eles
para convertê-los em terra ignóbil. Por isso agora canta e olha
apenas para a frente / a vida não dará explicações: o
corpo sabe
evitar as lanças venenosas do rancor, quem sabe uma forma
vedada do amor
não correspondido. Às vezes os limites abrem-se e
o voo começa;
então, já não há espaço para as frivolidades tal como
sabem
os que regressam da guerra ou do exílio errático (do
poema).
Alfredo Veiravé, versão de HMBF a partir
do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo
XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por
Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 294-295.
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