o pousio dos campos que foram verdes
verdes ao longo de gerações
milho regado ao pé
pela levada da aldeia
o murmúrio da água de lima
a correr pelos pastos.
do minho dessa imagem do minho
que te persegue como um
vício absurdo quase nada resta.
falam-te de chegas de bois
nos campos da lama
na festa de s. brás
e tu vês a mina dos escuros
onde a mãe lavava a roupa
também ela ultrajada de secura.
Francisco Duarte Mangas (n. 1960), in A Fome Apátrida das Aves (2013). Fortemente vinculada à terra e ao mundo rural, a poesia de Francisco Duarte Mangas aproxima-se, a espaços, de um bucolismo que não enjeita perspectivas de tipo elegíaco sobre esse mesmo mundo. Invocando Carlos de Oliveira, Manuel Gusmão diz que Duarte Mangas guarda da poesia daquele «a sobriedade e a brevidade, o desenho minucioso da imagem, os valores de proximidade com os acidentes morfológicos e a respiração da terra; a ligação apaixonada com a imaginação material, a paixão do concreto, do pequeno vivo e dos ciclos naturais».
1 comentário:
Gosto do poema!
Após dois meses e meio de chuva contínua,aqui no Minho,já não deverá faltar água para as barrelas.
Um abraço
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