quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

UM POEMA DE NUNO MOURA


BAL DU 14 JUILLET, PARIS 1958

Da fouce dos músicos a granada.
Aguçado, o tampo da mesa deixou-se guiar
os outros encaixaram-se nos centímetros das pernas
centopeias num sainete coceguento
vapor de fome
e quem visse diria que era um concurso de castelos
de areia que o mar calcina e o vento sova
e novamente e outra vez.
No sedeiro forquilhas rompem nas bocas
caixilhos lubrificados tremem cavidades
peças salientes dão de si, hidratam cartilagens,
contagem decrescente no paiol dos nervos.
Rijas, bigornas subornadas vão para o bengaleiro
rasgar sofás-cama.
Quem visse o tango dos queixos, punheta pequena
cigarro a puxar nova eletricidade
pediria uma rodilha para a sua sangueira.


Nuno Moura, in Braçada, Douda Correria - Colecção Particular, n. 02, Fevereiro de 2019, p. 23.

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