Têm surgido inúmeras teorias da conspiração, todas muito
sóbrias e altamente prováveis, com um grau de fundamento e cientificidade que
nos inspira esperança quanto aos níveis de racionalidade e bom senso
distribuídos pelo mundo. Já aqui me referi a uma, segundo a qual o vírus tinha
sido gerado pelos chineses para domínio do mundo. Os chineses têm muito a
ganhar com o vírus, está visto. A economia chinesa estava pelas ruas da
amargura, com este vírus vai ter um hipe priápico sem precedentes. Outra teoria
diz que isto é tudo para dizimar velhinhos, o que faz muito sentido tendo em
conta a vulnerabilidade dos mesmos. Só não percebo é por que se gastam tantos
milhões a tentar salvá-los, quer com medidas altamente lesivas da economia,
quer com o reforço dos sistemas de saúde onde eles são tratados até não dar
mais. Há casos de recuperação, mas eu ficaria alerta. Aos velhinhos recuperados
deixo esta mensagem: não saiam de casa, ainda acabam electrocutados por um
drone. Outras teorias são menos proficientes, como aquelas que se ficam pelos vaticínios
e pelas previsões de médiuns e pitonisas. Há delas para todos os gostos, embora
nenhuma seja especialmente útil ou eficaz. Afinal, de que me vale saber que o
mundo vai acabar ou que alguém previu que ele seria atacado por uma peste no
ano corrente? Em que tais teorias contribuem para o bem estar das pessoas, não
entendo. Mas se as fizer ficar em casa mais consoladinhas e esperançosas, por
saberem que há anos tudo quanto estão a viver era previsível, pois então que se
mantenham em casa consoladas e esperançosas com o fim do mundo. O Livro do
Apocalipse é leitura sempre muito esclarecedora. Não obstante, eu próprio tenho
a minha teoria da conspiração. Estarão lembrados do Senhor do Adeus. Tinha um
nome: João Manuel Serra. Sobre ele se escreveram livros. O que nunca ninguém se
deu ao trabalho de fazer foi uma exegese wittgensteiniana que decifrasse a
razão de ser daquele gesto: cumprimento ou despedida? Pois bem, eu fiz esse
trabalho. Depois de ler tudo quanto há para ler sobre o Senhor do Adeus, depois
de observar atentamente os seus gestos, concluí que o Senhor do Adeus era um
alienígena que desceu à Terra para nos deixar um aviso. Nem cumprimento nem
despedida, mas sim um aviso: preparem-se, o fim do mundo está próximo. Ninguém
lhe deu ouvidos, ninguém se preparou, agora aguentem-se. Penso nisto enquanto vejo
ali na varanda três pardais telhado a lutarem desenfreadamente por um grão de
arroz. É um sinal. Entre aqueles pardais telhado e os seres humanos que se
digladiam nos hipermercados por pacotes de papel higiénico não há diferença
alguma. A que havia perdeu-se com a eliminação de bidés nas casas de banho. Se
ainda lavássemos o cu, não estaríamos tão preocupados com papel para o manter
limpo. Lá em baixo, Quitéria anda pelas ruas a dizer às pessoas para se
fecharem em casa. É um gesto simples, ponderado e sábio. Acho que devíamos
todos fazer o mesmo, devíamos todos sair para a rua a mandar as pessoas para
casa. Vou implementar agora mesmo esta medida. A todas as pessoas que se
cruzarem comigo no percurso para a tabacaria direi: vá para casa, é onde se está melhor quando o mundo acaba. Não me levem
a mal que não vos cumprimente.
1 comentário:
obrigada pelo riso :)
Enviar um comentário