Maria Gabriela Llansol estreou-se com um livro de contos,
Os Pregos na Erva (1962). Não passou despercebido. Nos apêndices à segunda
edição encontramos alguns excertos de críticas então publicadas. Natércia
Freire chamou poeta à autora: «escritora de uma originalidade solitária». Alfredo
Guisado vacilou, não sabendo se havia de chamar contos ou episódios aos textos
do primeiro livro de Llansol. Álvaro Salema mostrou-se entusiasmado, mas insistiu
na ideia de que as narrativas do livro subsistiam «principalmente como poesia e
não como ficção objectivável». João Gaspar Simões foi implacável: «não são “contos”,
porque, para todos os efeitos não “contam” coisa nenhuma». E acrescentou: «Sem
lirismo de criação nem subjectividade de observação». O remate não deixa
dúvidas: «De facto, o “estilo” de Maria Gabriela Llansol, na sua pretensa
genuinidade, traduz o que de mais vazio e retórico subsiste nas nossas letras».
Mário Dias Ramos falou em «psicologismo ambíguo». Já Armando Ferreira
dividiu-se com a riqueza de um «estilo em equilíbrio inverosímil de vocábulos e
significados, muitos de rara felicidade, outros de duvidosa adaptação». E, por
fim, Alexandre Pinheiro Torres: «experiência estética que, a nosso ver, em
grande parte se malogra. (…) Em muitas passagens, em muitas páginas, o
processo, pelos motivos esboçados, não resulta. Pode constituir até um bom exemplo
de como não se deve escrever».
A tudo isto se antecipou a autora com uma passagem do
conto “O Sal”:
— Não devíamos distinguir
entre vida e literatura — disse alto. — Concebes a vida sem
artificialismo e a literatura sem naturalismo?
—
Não —
respondeu Sílvia. — Mas a literatura tem, por essência, mais artificialismo
que a vida, e a vida mais naturalismo que a literatura.
Maria Gabriela Llansol, in “Os Pregos na Erva”, 2.ª
edição, Edições Rolim, 1987, p. 68.
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