terça-feira, 28 de abril de 2020

PÉS DE BARRO

   (...) Pensem, por um momento, como seria um mundo em que não usássemos combustíveis fósseis. Antes de mais nada, não poderíamos ter um carro pessoal, nem nós nem ninguém. A vida nas cidades como as nossas, dependente do consumo de muita energia e de produtos que vêm de muito longe através dos sistemas de transporte, não poderia ser mantida.  (...) 
   Sem combustíveis fósseis, devemos dizer adeus à ideia de viajar de avião quando nos apetece. O que faremos então, se não pudermos ter acesso aos alimentos produzidos noutros continentes e embalados em plástico em grandes fábricas que chegam a nossa casa, nas cidades, através de supermercados? (...) 
   E que me dizem do enorme consumo de electricidade de que hoje dependem o nosso lazer e o nosso trabalho? Telemóveis, computadores, televisores, internet... Tudo isso consome enormes quantidades de electricidade, que é, sim senhor, produzida principalmente a partir do petróleo (quando não é das coisas piores, como o urânio das fábricas nucleares. Imagino que todas se lembram de Fukushima...).
   Por conseguinte, para enfrentar a crise ecológica e social, do que nós precisamos é de mudar por completo a nossa vida, a nossa economia, os nossos desejos, a nossa forma de habitar, de comer... E isso não depende duma lei ou dum imposto, duma proibição pontual ou dum decreto. Mesmo que uma lei proibisse o uso de combustíveis fósseis da noite para o dia, todos os problemas a que me refiro iriam continuar. O drama de o nosso mundo precisar de se autodestruir para funcionar, significa que parar a destruição implica voltar a pensar como fazer quase tudo.

Adrián Almazán, in Carta-aberta aos jovens em luta pelo clima, revista Flauta de Luz, n.º 7, Abril de 2020, pp. 60-61.

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