domingo, 20 de setembro de 2020

UM POEMA DE DEREK MAHON

 



POETAS DOS NOVENTA
 
Lentamente, com a grave negligência
Da sua espécie, cada rosto esculpido em espírito
Surge diante de mim, olhos
Arruinados pela descoberta.
 
Quase me havia esquecido de tais existências,
Tão ciumento andava eu da minha pele
E o mundo comigo. Como
É agora convosco?
 
Ter-vos-ão desapontado a morte e suas metamorfoses,
Assim como os vermes que tão de perto vistes?
Talvez hajais descoberto que tendes de fazer fila
Para um bilhete de entrada no inferno,
Apesar dos vossos perfumes a louro.
 
Fostes todos crianças de sabedoria indefesa,
Tagarelas aposentados que tolos não seriam
Clérigos rurais frustrados
Que jamais alguém ordenaria.
 
Não espereis favores da reincarnação,
Nenhum anseio após o álcool e as putas
Pois vós, mais do que ninguém,
Fizestes a vossa parte
Em levar a natureza até à arte…
 
Dai-vos por satisfeitos ao espalhares pelos prados
Cabelo e bocas juvenis presas a flores
E ficai descansados, o dia
Será a luz do sol, e a noite
Um zeloso espectro de estrelas.
 
 
Versão de HMBF.

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