segunda-feira, 23 de novembro de 2020

NOW’S THE TIME (1945)


 

Sentou-se na esplanada a ver passar as raparigas, planantes de uma jovialidade que escarnece da velhice. Quero lá saber se ficarei murcha e engelhada, dizia uma. A outra respondia com gargalhadas irreflectidas, indiferente às regras deste jogo que consiste em captar a cada instante um outro que permita olvidar aquele que passou. O espírito impunha-lhe uma forma de alegria que o corpo denegava. O dever de ser feliz porfiava com a condição de estar melancólica, envolvendo a carne numa náusea fria que a deixava zonza. Fechou os olhos, deixando-se embalar pela sensação de que não são apenas três os tempos que marcam o compasso da existência. Imaginou-se rodeada de coisas sem passado nem presente nem futuro, mas depois voltou a abrir os olhos. As raparigas atravessavam novamente a avenida, agora no sentido contrário, libertando no ar um rastro de perfume enjoativo.

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