quarta-feira, 31 de março de 2021

KÄPPEE (2000)

 


Foi um dia hiperprodutivo, não fiz a ponta de um corno. É a melhor forma de trabalhar. A cabeça põe-se a pensar levando o corpo à exaustão, obrigando-o a libertar-se posteriormente com jogging, ginásio, murros, pontapés. No meu caso, uns copinhos de tinto antes de levar o cão a passear. Lembrei-me das Värtinä por causa de uma banda que vi partilhada no Facebook, uns franceses que andam na moda e fazem lembrar coisas como os coros femininos da Bulgária, o folclore finlandês, congéneres. Sou de entusiasmos comedidos. Parecendo-me aquilo estimulante, cheira-me a onda motivada pelo sucesso da banda sonora do Retrato da Rapariga em Chamas. Questões que não interessam nem ao menino Jesus. O que realmente importa é que conheci finalmente o vizinho eremita. Vive numa barraca no meio de umas árvores velhas e altas, num terreno aqui ao lado onde a populaça costuma passear os cães. Terreno bonito, temo pelo dia em que pretendam deitar as árvores abaixo para construir mais mamarrachos. O eremita engraçou com a cadela, sentiu-lhe os medos, e meteu conversa. Fiquei a saber da sua decisão de fugir da civilização, isolar-se, viver no meio da floresta, essas coisas. Escutei-o atentamente, ao mesmo tempo que ouvia as vozes das crianças na escola 100 metros a oeste, os carros na avenida 100 metros a este, com vista para o McDonald’s a sudeste, os pesados a caminho da auto-estrada 100 metros a sul, os putos a brincar no bairro 100 metros a norte. As árvores são altas, é um facto, mas a civilização está a 100 metros por todos os lados e passam por ali pessoas diariamente a passear os cães. Ou queria dar-me a banhada, tomando-me por parvo, o que é um facto, não se enganou, ou está a viver um equívoco. Que o viva sem se desequivocar é o que espero, as pessoas são mais felizes quando vivem imersas nos seus próprios equívocos. Saúdo-o.

1 comentário:

CCF disse...

Provavelmente vive apenas dentro da cabeça dele, por isso não ouve a civilização por perto.
~CC~