domingo, 28 de março de 2021

PALESTEENA (1920)

 


Calhou que tivessem sido os primeiros a gravar um disco de jazz, em 1917. O mítico Buddy Bolden recusou, temendo que os brancos lhe ficassem com as canções. Nick LaRocca, que era branco, aproveitou a situação, autoproclamando-se inventor do jazz após a gravação de Livery Stable Blues com a Original Dixieland ‘Jass’ Band. Tinham a sua piada. Escutados à distância de 1 século e picos — como o tempo passa! — mantêm a jovialidade e seriam ainda hoje capazes de alegrar umas noites de Santo António. Palesteena foi gravada em 1920 e é das coisas ao mesmo tempo mais deliciosas e inesperadas que registaram, com forte influência da música tradicional judaica. Talvez o tenham feito para entusiasmo das comunidades estabelecidas nos EUA, havia que agradar ao público de uma forma geral e a quem tinha poder em particular. Não creio que hoje seja diferente. As relações entre artistas, elites e público são complexas, um pouco como as que vemos ocorrer num desses festivais patrocinados de norte a sul pelas autarquias. Os artistas vão ganhar o seu, o público diverte-se e o poder subsidia, na perspectiva de cair nas boas graças do público distraindo-o e dos artistas pagando-lhes. Não é fácil resistir à tentação de participar numa arena viciosa destas, qualquer que seja o papel que se representa. Haverá sempre um preço a pagar. Não é um poema. Uma curiosidade: Henry Ragas, o pianista da banda, morreu da chamada gripe espanhola em 1918. Foi substituído por J. Russel Robinson.

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