quinta-feira, 15 de abril de 2021

AND WHAT IF I DON’T? (1963)

 


Continuando. O que se toca numa jam session com amigos? Lou Reed, Neil Young, Jorge Palma, Bob Dylan, Pink Floyd, Jimi Hendrix, bluesPoetry can heal depression, li há tempos num jornal. Mais recentemente, uma cadeira de Introdução à Poesia passou a fazer parte de um mestrado de Medicina. Ontem li esta: estão a chegar poemas às caixas de correio dos portugueses, a iniciativa visa combater a solidão e religar a comunidade. O Zé tem razão, transformaram a poesia em auto-ajuda. Mas há também uma dimensão religiosa nisto de religar a comunidade através dos poemas. Não é coisa que eu entenda, os meus poetas preferidos foram todos pouco saudáveis. Vê-los convertidos em ben-u-rons e chás de tília causa-me algum desconforto. Por outro lado, compreendo que nem toda a gente saiba tocar um instrumento e tenha amigos na companhia dos quais possa exorcismar os seus demónios. Tocar guitarra é o meu xarope antidepressivo, uma forma agradável de passar o tempo que hoje calhou à volta de uma mesa recheada de cerveja artesanal e amendoins. Terminada a desbunda, regressei ao carro e meti a tocar Herbie Hancock. Pensei que também a poesia há-de ressentir-se de tantos praticantes encerrados numa redoma onde só se fala e discutem poemas, gente tão embrenhada em questões abstractas e académicas que se esquecem quanto de terra, viagem, respiração, vida, aventura, foda, se espera encontrar num poema. As palavras inventaram-se para representar as coisas, fecharmo-nos num mundo em que as únicas coisas são as palavras há-de ser triste. Já devo ter mencionado algures Gracham Moncur III e Grant Green, que acompanham Hancock no álbum que estou agora a escutar. Que relação terão tido com a música nas suas vidas? Terá a música contribuído para que fossem pessoas saudáveis, menos sós, ligadas à comunidade?

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