sábado, 3 de abril de 2021

GUILTY (1974)

 


Dei com uma rara referência a Randy Newman nos Panfletos, de Pedro Tadeu. A rapaziada da poesia farta-se de fazer referências a Tom Waits, David Bowie, Leonard Cohen, Nick Drake, Bob Dylan, Jim Morrison, Patti Smith, o que está muito bem, mantendo na penumbra um dos mais incríveis escritores de canções de todos os tempos. Fartou-se de escrever para filmes, coleccionando nomeações para prémios e almejando dois Óscares com composições para filmes da Disney. Talvez isto intimide os poetas dados às coisas da música, que preferem tipos com certo distanciamento do star system, que é como quem diz mais vestidos de preto e obscuros. A mitologia do outsider também tem o seu brilho e veste camisas com cornucópias, sabiam? Eu cá gosto de canções, e as de Newman são do melhor que há. Conheci-o por interposta voz, a da holandesa Mathilde Santing, que em 1993 deu à luz Texas Girl & Pretty Boy. Foi disco que ouvi vezes sem conta, partindo posteriormente em busca dos originais que me deixaram como se diz que os burros ficam quando contemplam palácios. Ateu, fez da música religião desde os 17. O primeiro álbum, homónimo, saiu em 1968. Foi um insucesso, apesar das orquestrações exuberantes. Vem de lá Living Without You, que Santing canta magistralmente. Guilty é do quarto álbum, Good Old Boys (1974), que foi editado dois meses antes de eu haver nascido. A letra diz mais ou menos isto:
 
Sim, amor, estive a beber
Não devia ter aparecido, bem sei
Mas acabei por dar comigo em apuros
E não tenho para onde ir
 
Trouxe algum uísque do barman
E cocaína de um amigo
Só tinha de continuar a mexer-me
Até voltar a cair nos teus braços
 
Sou culpado
Amor, sou culpado
E serei culpado o resto da minha vida
 
Como é que nunca faço
O que é suposto fazer
Como é que nada do que tento fazer
Bate certo?
 
Tu sabes
Sabes como é comigo, amor
Sabes que simplesmente não me suporto
Preciso de muita droga
Para fingir que sou outra pessoa
 
E é assim. Boa Páscoa a quem for da Páscoa. Eu é mais bolos.

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