quinta-feira, 1 de abril de 2021

UM POEMA DE MUTIMATI BARNABÉ JOÃO

 


O ESTRUME

És estrume, és terra e à Terra voltarás.
Mas a que terra? À Terra que tem fome de estrume?

Tenho um espinho no pé direito.
Descalço a alparcata.
Esta terra é estéril. Queima. Está na agonia.
Há já três dias caminho na agonia da terra.
Há três dias caminho na minha agonia.
Não sei como ajudar esta agonizante.
Sou uma Ignorância. Uma Agonia com duas pernas.
Este espinho no pé direito dói mesmo nada.

Vai haver uma ordem para matar esta fome inimiga.
Uma ordem para um Hospital móvel da Terra
Fazer um curativo de estrume nesta terra sem sangue
Cobrir com muito cuidado a sabedoria Agrícola
Esta chaga de Sol e Agonia calada.

Camaradas
Esta Terra necessita dos nossos cuidados:
Suor, Coragem, Trabalho e Estrume.

Na Terra da Agonia só cresce o grão da Agonia.
É preciso dar alguma coisa para colher alguma coisa.
É preciso dar Tudo para colher o Necessário.
É preciso estrumar esta Fome.

Mutimati Barnabé João, in Eu, O Povo, FRELIMO, Lourenço Marques, 1975 - Ano da Independência,  s/p.

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