segunda-feira, 5 de abril de 2021

UM POEMA DE PAULO DA COSTA DOMINGOS

 


FOLHAS DE RELVA

De bolsos vazios
e alma cheia,
sapatos na lama,
mas, um pormenor:
o falcão em mim
pelos ares me leva.

Silêncio e solidão
se instalaram nesta
casa. Assim sendo,
só mais um pormenor:
são na subida os ares
tão frios quão na queda.

Doravante nenhum
golpe de sorte,
cuidarei eu das plantas.
Doravante, a estrada
estreita, as raízes
se tornam aéreas.

O gato terá seu pires
de leite e a serradura
mudada... Ou não:
serei eu inútil
no sonho-fantasma
em cadeira de baloiço.

Não te rales,
camarada, te dou
minha mão,
seguiremos juntos
por todo o tempo
que vivermos.

Mesmo nada sabendo
do voo ou dos ventos
comigo te levo
camarada, e juntos
bateremos sola:
ofício de treva.

Dinamicamente
resolveremos o dilema
e o paradoxo
da noite perene;
que seja essa
a nossa leveza.

Dinamicamente,
por sobre 
o arame
farpado,
passaremos
nosso labor.

Paulo da Costa Domingos, in Versos Abrasileirados, com ilustrações de Bárbara Assis Pacheco, & etc, Novembro de 2012, pp. 32-33.

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