sexta-feira, 10 de setembro de 2021

JORGE SAMPAIO (1939-2021)

 


“Há mais vida para além do orçamento. A economia é mais do que finanças públicas”.
Jorge Sampaio
 
Faleceu o único político do Partido Socialista em quem alguma vez votei. Tinha 21 anos. Aos 21 anos pensamos que já sabemos alguma coisa, mas o tempo encarregar-se-á rapidamente de nos desmentir. No entanto, não me arrependi. Foi o voto certo na pessoa certa no momento certo. A primeira memória que tenho dele transporta-me para um comício em Santarém, onde fui levado pela mão do meu pai. Impressionou-me o vigor do discurso, recordo-me que em casa o nome dele foi muito comentado por esses dias. A minha família era toda soarista, eu fui sempre outra coisa. À época ainda não sabia qual. Quando entrei na Universidade, em 1992, tinha ainda 17 anos. Sampaio era então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, reeleito no ano seguinte. O sucesso da coligação inesperada com o Partido Comunista Português, ao qual aderi muitos anos depois, dava frutos. Lembro-me bem do que era entrar em Lisboa pelo lado do aeroporto, os extensos bairros de barracas que serviam de cartão-de-visita. Lembro-me da paisagem quando, a caminho da Sobreda, onde residida uma tia minha, atravessávamos o Tejo pela Ponte 25 de Abril. Votei nele em 1995, contra Cavaco. Ouvi ontem o Carlos Brito revelar que o Álvaro Cunhal terá dito, ao tomar conhecimento da intenção da candidatura de Sampaio à Presidência da República, que o PCP devia fazer tudo para que ele ganhasse, pois os portugueses jamais conseguiriam eleger um Presidente da República tão à esquerda. Era um humanista convicto, mais do que qualquer outra coisa. Que descanse em paz, o ex-PR que nos tempos da ditadura esteve sempre ao lado dos perseguidos, dos humilhados e dos ofendidos pelo regime de então. Como advogado, deixa esse legado de haver estado do lado certo quando outros andavam a olhar para o próprio umbigo com oportunismo e cobardia. Como político, foi um excelente Presidente da Câmara da nossa capital e o melhor Presidente da República que este país alguma vez conheceu.

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