“Há mais vida para além do orçamento. A economia é mais
do que finanças públicas”.
Jorge Sampaio
Faleceu o único político do Partido Socialista em quem
alguma vez votei. Tinha 21 anos. Aos 21 anos pensamos que já sabemos alguma
coisa, mas o tempo encarregar-se-á rapidamente de nos desmentir. No entanto, não
me arrependi. Foi o voto certo na pessoa certa no momento certo. A primeira memória
que tenho dele transporta-me para um comício em Santarém, onde fui levado pela
mão do meu pai. Impressionou-me o vigor do discurso, recordo-me que em casa o
nome dele foi muito comentado por esses dias. A minha família era toda
soarista, eu fui sempre outra coisa. À época ainda não sabia qual. Quando entrei na Universidade, em 1992,
tinha ainda 17 anos. Sampaio era então presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
reeleito no ano seguinte. O sucesso da coligação inesperada com o Partido
Comunista Português, ao qual aderi muitos anos depois, dava frutos. Lembro-me
bem do que era entrar em Lisboa pelo lado do aeroporto, os extensos bairros de
barracas que serviam de cartão-de-visita. Lembro-me da paisagem quando, a
caminho da Sobreda, onde residida uma tia minha, atravessávamos o Tejo pela
Ponte 25 de Abril. Votei nele em 1995, contra Cavaco. Ouvi ontem o Carlos Brito
revelar que o Álvaro Cunhal terá dito, ao tomar conhecimento da intenção da
candidatura de Sampaio à Presidência da República, que o PCP devia fazer tudo
para que ele ganhasse, pois os portugueses jamais conseguiriam eleger um Presidente da
República tão à esquerda. Era um humanista convicto, mais do que qualquer outra
coisa. Que descanse em paz, o ex-PR que nos tempos da ditadura esteve sempre ao
lado dos perseguidos, dos humilhados e dos ofendidos pelo regime de então. Como
advogado, deixa esse legado de haver estado do lado certo quando outros
andavam a olhar para o próprio umbigo com oportunismo e cobardia. Como
político, foi um excelente Presidente da Câmara da nossa capital e o melhor
Presidente da República que este país alguma vez conheceu.
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