terça-feira, 16 de novembro de 2021

SOB ATAQUE

Esta noite sonhei que Portugal estava a ser atacado por mar e pelo ar. Os ataques por ar consistiam em tsunamis sucessivos. Teorias da conspiração espalhavam a hipótese de que seria obra do grande controlador das marés, o vice-almirante Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo. Tudo para disfarçar as vagas de covid-19, metendo as massas a discutir o que não interessa: tsunamis. Pelo ar o assunto era mais complexo. Como Portugal não tem altas torres, os aviões despenhavam-se contra as gigantescas árvores de Natal que, para deleite das massas distraídas com tsunamis, enfeitam as cidades por esta época. Várias teorias conspirativas circulavam, que era obra do pai Natal, diziam uns, que eram ataques perpetrados por Jesus Cristo, diziam outros, que era isto e mais aquilo e aqueloutro. Curiosamente, as vítimas mortais eram todas escritores, nomeadamente os que vendem mais no período natalício: José Rodrigues dos Santos, dito o orelhas, morto, Helena de Sacadura Cabral, dita mãe dos Portas, morta, Margarida Rebelo Pinto e Gustavo Santos, ambos mortos, Isabel Stilwell, Raul Minh'alma, Miguel Sousa Tavares, tudo morto. Havia mais, mas estes são aqueles de que me recordo melhor. Uns diziam que era obra dos escritores que não vendem, por inveja, outros garantiam que se tratava de trabalho de alguns críticos malévolos, por saberão eles que razão, e havia também quem falasse da mão invisível de um tal Futuro. Pormenor engraçado, os aviões quando caíam não explodiam nem se desfaziam em chamas. Transformavam-se automaticamente em pó. Eram nuvens de uma poalha muito fina. Cada grão dessa poalha tinha a forma de uma letrinha, como aquelas massas com forma de letras. Mas em minúsculo.

Sem comentários: