ENTERRO DE OFÉLIA
Morreu. Vai a dormir, vai a sonhar... Deixá-la!
(Falai baixinho: agora mesmo se ficou...)
Como Padres orando, os choupos formam ala,
Nas margens do ribeiro onde ela se afogou.
Toda de branco vai, nesse hábito de opala,
Para um convento: não o que Hamlet lhe indicou,
Mas para um outro, olhai! que tem por nome Vala,
Donde jamais saiu quem, lá, uma vez entrou!
O doce Pôr-do-Sol, que era doido por ela,
Que a perseguia sempre, em palácio e na rua,
Vede-o, coitado! mal pode suster a vela...
Como damas de honor, Ninfas seguem-lhe os rastros,
E, assomando no Céu, sua Madrinha, a Lua,
Por ela vai desfiando as suas contas, Astros!
Leça, 1888.
António Nobre, in Só, introdução de Maria Ema Tarracha Ferreira, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, 1989, p. 215.
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