terça-feira, 19 de abril de 2022

RASCUNHO DE UMA EPÍSTOLA

 


 
Entre sobas solertes e solenes
Aqui estou de poeta e de passagem.
Das 25 pombas deste Abril
As melhores levo em versos na bagagem.
 
E aqui as solto transidas e alertadas
Pelo hálito do medo que já volta
E cada uma delas é uma concha
Carregando uma pérola de revolta.
 
Aqui eu as desprendo contra a noite
Que já da liberdade os trevos pisa
E cada uma delas é um rio
Desfiando uma prata insubmissa.
 
Se o país que na esperança exercitámos
For num desvão de Abril apunhalado
Onde a vida reclama a plenitude
É que o poeta é febre é raiva é dardo.
 
É canto arterial é um centauro
Com uma flecha de música no flanco,
É toda a luz na boca e liberdade
É o mais certeiro tiro do seu canto.
 
Enquanto lira for de luz cantada
O poeta sem repouso no combate,
A luta não termina quando perde
A cor nos cravos que a escuridão abate.
 
Inédito (poema matriz dos sonetos da Epístola aos Iamitas).
 
Natália Correia, O Sol nas Noites e o Luar nos Dias.

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