Que se felicite a Ucrânia por esta vitória, está muito bem. Sempre é uma alegria para um povo macerado pela guerra e as pessoas no geral adoram estes gestos paternalistas. Que se atribua aos russos o prémio da "guerra mais brutal e cínica desde a II Grande Guerra", não admira. É a desfaçatez do costume. (Ainda ontem, para me entreter, via um filmezito chamado Barry Seal: Traficante Americano e desatei a rir ao lembrar-me destas declarações. Infelizmente, a tosse travou o riso e tive de ir à casa de banho escarrar.) O que deixa um tipo sem forças neste cenário é a sensação de já estar a viver numa quinta dimensão da alienação mental. A indefensável invasão da Ucrânia pela Federação Russa tem produzido este efeito estranho, percebemos de um modo claro e inequívoco como o espectáculo tomou conta de nós e tudo se processa numa lógica pop que revira, contorce, subverte e volta a inverter velhos valores. O que disto deve ficar registado é simples: 2022, ano em que a OTAN, uma aliança militar, se pronunciou sobre o Festival Eurovisão da Canção. Não quero imaginar a galhofa que será, daqui a cem anos, os historiadores tentarem compreender este nosso tempo. Se ainda houver historiadores daqui a cem anos.
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