O TEU NOME
Se tivesse de preencher, agora mesmo,
uma folha esquálida em que do lado esquerdo
pusesse as oportunidades da vida
e do lado direito o teu nome, e só o teu nome,
para me ser mais fácil, digamos assim,
fazer a escolha útil para uma vida:
começava pela pirâmide das necessidades de Maslow
para lhe dizer que, quando as conhecer,
irei preferir as de Gizé;
subiria depois a pulso para o estrelato,
o reconhecimento daquilo
que ainda não tive e começo a esquecer;
o dinheiro para nos pôr bem na vida e pagar
os favores que ela por vezes ainda faz,
longe da minha zona de desconforto,
que é toda a minha zona, o meu bairro;
e teria de parar, mesmo ali,
olhar para o lado direito e,
ao escrever o teu nome,
porque só isso me bastaria,
não o escrever de todo —
começo a esquecer-me perigosamente
do teu nome.
João Alexandre Lopes, in Porta dos Fogos, volta d'mar, pp. 36-37.
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