Há 20 anos eu rapava a barba, era professor contratado
num Externato que já não existe, vendia formação em Mundo Actual e comprava o
Expresso aos sábados de manhã. Tinha menos 20 quilos, pelo menos. Há 20 anos
praticava yoga, pintava os últimos quadros, começava a escrever em weblogs. Há
20 anos publiquei um livro convencido de que seria o último, li “Ulisses”, do
James Joyce, ia frequentemente ao cinema, alugava filmes num clube de vídeo, o
leitor de VHS ainda funcionava e eu ouvia mais discos de vinil do que CDs. Há
20 anos fui ver os Smog a Leiria, TGB, SPILL e o Quinteto de André Fernandes no
6.º Festival Jazz de Valado dos Frades. Fui ao Lux ver os GusGus. Acho que foi
a última vez que lá entrei. Há 20 anos vi “A Vida é Sonho”, de Calderón de la
Barca, no Teatro da Cornucópia, ao Bairro Alto. As avós ainda estavam cá e o
Basquiat também. Reparo nas fotografias de há 20 anos que, em Outubro, jantámos
em casa de alguém que nunca mais vimos. É assim a vida. Ainda não havia
smartphones como hoje e a Internet era mais lenta, os chats eram uma novidade
perigosa. Há 20 anos fui pai pela primeira vez e o mundo nunca mais foi o
mesmo. Parabéns Matilde Fialho, a valsa continua.
1 comentário:
Parabéns ao pai e à filha, bonito texto.
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