terça-feira, 18 de abril de 2023

20 ANOS

 


Há 20 anos eu rapava a barba, era professor contratado num Externato que já não existe, vendia formação em Mundo Actual e comprava o Expresso aos sábados de manhã. Tinha menos 20 quilos, pelo menos. Há 20 anos praticava yoga, pintava os últimos quadros, começava a escrever em weblogs. Há 20 anos publiquei um livro convencido de que seria o último, li “Ulisses”, do James Joyce, ia frequentemente ao cinema, alugava filmes num clube de vídeo, o leitor de VHS ainda funcionava e eu ouvia mais discos de vinil do que CDs. Há 20 anos fui ver os Smog a Leiria, TGB, SPILL e o Quinteto de André Fernandes no 6.º Festival Jazz de Valado dos Frades. Fui ao Lux ver os GusGus. Acho que foi a última vez que lá entrei. Há 20 anos vi “A Vida é Sonho”, de Calderón de la Barca, no Teatro da Cornucópia, ao Bairro Alto. As avós ainda estavam cá e o Basquiat também. Reparo nas fotografias de há 20 anos que, em Outubro, jantámos em casa de alguém que nunca mais vimos. É assim a vida. Ainda não havia smartphones como hoje e a Internet era mais lenta, os chats eram uma novidade perigosa. Há 20 anos fui pai pela primeira vez e o mundo nunca mais foi o mesmo. Parabéns Matilde Fialho, a valsa continua.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns ao pai e à filha, bonito texto.