quinta-feira, 13 de abril de 2023

HÁ SEMPRE UMA EXPLICAÇÃO

 
Afinal diz que há uma explicação para o comportamento do Dalai Lama, afinal diz que há, é cultural, afinal diz que o multiculturalismo é a explicação. Afinal diz que sim, que há uma explicação para o comportamento do Boaventura de Sousa Santos, que não estamos certos de haver tido comportamento algum, a presunção da inocência a tal obriga. Afinal é num Estado de Direito que vivemos, o Estado de Direito é cultural e o multiculturalismo é a explicação. Afinal a Igreja Católica Apostólica Romana não se esgota nos prevaricadores, a pedofilia não é na Igreja, afinal, é entre padres que corrompem a Igreja que tem o dever de proteger a confissão, afinal há uma explicação, há, há sempre uma explicação para não denunciar aquilo que se sabia acontecer lá dentro, é, afinal a explicação é a obrigação do segredo, e Deus perdoa, perdoa, Deus perdoa até o multiculturalismo, afinal. Afinal há sempre uma explicação para que as coisas sejam como e o que são, há, há sempre uma explicação cultural, social, política, religiosa, afinal há. Há uma explicação para o crescimento da extrema-direita e a falência do comunismo e o liberalismo económico, há. Claro que há. Há uma explicação para a globalização dos mercados não ser acompanhada de uma globalização das pessoas, claro que há. Há uma explicação para travar as migrações, derrubar certos muros e erguer outros. Então não há?! Ó Diabo, claro que há. É, há uma explicação para que a Federação Russa tenha invadido a Ucrânia, tal como houve uma explicação para que os EUA tenham invadido o Iraque, e há uma explicação para que Israel continue a matar palestinianos. Há, há explicações, há sempre explicações. Afinal há até uma explicação para que Jesus tenha subido aos céus. Há explicação para tudo, até para o que não acontece. Há explicação para que não existam casos de assédio entre jornalistas, nem no mundo do espectáculo português, nem entre os donos das televisões. Há. Há explicações e razões que justificam a pureza de certos meios, o silêncio sobre certos meios, a ignorância acerca do modus operandi em certos meios. Há explicação para que certos meios não sejam escrutinados como outros meios são escrutinados. Claro que há, é cultural, é multicultural, é em benefício da multiculturalidade dos meios que só funcionam de certa maneira. O futebol, por exemplo, é um meio que só funciona de certa maneira. Há explicações para que assim seja, claro que há. Há sempre uma explicação à nossa espera, uma explicação ao virar da esquina. A gente anda e tropeça em explicações. Quem consegue explicar o que se passa na TAP? Ora essa, claro que há explicações para o que se passa na TAP. Era o que faltava, não haver explicações para o que se passa na TAP. Se o Presidente da República menosprezar o número de casos de pedofilia na Igreja e de trabalhadores mortos na construção de estádios de futebol no Qatar, logo a gente depara com uma pirâmide de explicações. Tudo tem a sua explicação cultural, social, política, clubística, estética, etc. e tal. Claro que sim, que há uma explicação para que o violador viole e o invasor invada e o abusador abuse e o oportunista singre e o hipócrita prospere. Se o capitólio for invadido, claro que há uma explicação. Se o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e o Palácio do Planalto em Brasília forem invadidos, claro que há uma explicação. Até para exterminar índios há explicações. É para bem dos próprios índios. Acaba-se-lhes logo com o sofrimento. É uma boa explicação. O que não falta é explicações. Há sempre uma explicação. Há sempre explicadores. São, geralmente, professores no desemprego.