Okuda San Miguel, nascido em Santander e um dos grandes nomes da Street Art internacional, tematiza o poder transformador e inclusivo da cor. Um belo exemplo de subversão aconteceu em razão do mural que fez em Moscovo. Tendo iniciado o trabalho por um círculo cromático, é fácil de entender que este tenha sido percepcionado como um arco-íris, que parecia simbolizar a homossexualidade interdita, culturalmente votada ao silêncio calado. As intervenções no sentido de disfarçar o «arco-íris» acabaram por gerar uma polémica que se estendeu à comunicação social, e os tabus, postos a nu, foram um belo alvo de debate. Okuda chamou a este mural «Bandeiras de Liberdade».
A preocupação inclusiva do artista está inscrita em várias obras, como em «Titanes», em que o desafio consistiu em pintar dez silos abandonados na província de Ciudad Real (a mais ou menos duas horas de Madrid), que agora fazem deste espaço aquela que é considerada a maior galeria de arte a céu aberto. Para além dos artistas convidados, o colorido dos silos contou com a prestação laboral de cerca de 450 pessoas com deficiência, membros da associação Laborvalía, que promove a inclusão social de pessoas portadoras de deficiência e que já tinha, anteriormente, sido parceira de Okuda San Miguel.
Como muralista, escultor e pintor amplamente solicitado, Okuda viaja sem parar, e o que nos conta das suas viagens diz muito acerca do poder transformador da cor dos lugares que habitam as nossas vidas:
«Nas viagens, aprendi a interpretar o mundo a partir de uma perspectiva colorista, aprendi a ver cor, otimismo e energia positiva num planeta que às vezes se nos apresenta como cinzento, pesado e sem graça. Parece-me importantíssimo rodearmo-nos de cor no dia a dia. [...] O mundo está necessitado de cor, e o modo mais eficaz e sincero de transformar um espaço é precisamente dar-lhe cor. Não se muda, de imediato, a estrutura social, mas sim o que as pessoas veem, e as obras podem transformar-se em símbolos ou ícones do lugar, numa esperamça de mudança.»
Rosa Alice Branco, in As Cores das Coisas - Viagem Pela Natureza e Pelos Objetos, Contraponto, Setembro de 2022, pp. 199-200.
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