Escrever
a dor do sonho abortado
Escrever
a dor do sonho concebido
nas ruas sobre o esperdício negro
do papel de jornal manchado de café
da hortelã estiolada pela porcaria de gato
e dos cães
Escrever
a diferença o sofrimento
a afasia
o outro e nada mais
Escrever a paralisia
a vergonha a humilhação
Escrever com o sangue para ser
ser poeta atrás das grades
condenado a mil anos de sombra
silêncio e ausência
e quando os sonhos tomam conta do rosto
outros sonhos eu encontro nas ruas
sem que se reconheçam
então
desagregam-se
dispersam-se
e desfazem-se em fumo
Moha Souag (1949) nasceu em Boudenib, sudeste de
Marrocos. Professor de francês, estudou direito e literatura em Rabat e Fez.
Publicou contos, novelas, poesia. Em 1979, deu à estampa “L’année de la chienne”,
onze contos dedicados a temas sensíveis como o êxodo rural, a droga, a
prostituição, a violência. “Des espoirs à vivre” (1983) é o título da recolha
de onde provém este poema, incluído na “Anthologie de la Poesie Marrocaine
d’expression française”, organizada por Jean-Pierre Koffel para as Éditions
Aïni Bennaï, 2006, p. 158. Versão de HMBF.
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