(Fotografia respigada no weblog modo de usar & co.)
italiano na grécia
7.
marguerite yourcenar publicou memórias de adriano
pouco menos de uma década
depois de vittorio sereni ter visto
o fim do mundo a partir
de uma estação de comboios
no porto de atenas
e qualquer um deles podia estar a tentar falar
da maneira como nos é explicado
que hécuba passa da felicidade à infelicidade
em a fragilidade do bem:
que sempre que aceitamos uma paixão
nos agarramos à possibilidade de uma perda
mas o que hécuba escolhe
ao lamentar a morte de um neto e de um filho
a meio de um monólogo em eurípedes
é apenas aceitar a própria tristeza
ou talvez chegar a uma consciência de felicidade
que se prolonga até incluir a tristeza e a perda
como quem entende finalmente
que se existe sempre até ao último minuto
até ser completamente noite
sobre um campo aberto
hécuba
diz martha nussbaum
em a fragilidade do bem
faz então a escolha que lhe resta
e decide lembrar-se
do que é uma vida bem vivida:
o amor que a une aos outros
a cuidadosa descrição dos corpos
que lhe são mais caros
o laço que a une a alguns deveres
um sentido do valor da coragem
em condições cruéis
e numa linguagem talvez fora de moda
que me faz pensar em marguerite yourcenar
também eu imagino que hécuba
tentou fazer algum bem
entre as pessoas que amou
e esperou
no fim
um funeral decente
Tatiana Faia, in Adriano, não (edições), Novembro de 2022, pp. 41-42.
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