quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

O SENHOR QUE SE SEGUE

 


Falk Richter (Hamburgo, 1969) é um dos mais importantes dramaturgos e encenadores alemães da sua geração. As suas peças foram traduzidas para mais de 25 idiomas e são produzidas em todo o mundo. Além de escrever e encenar os próprios textos, Richter tem trabalhado peças de Shakespeare, Tchékhov, Schiller, Brecht e escritores contemporâneos tais como Caryll Churchill, Harold Pinter, Martin Crimp, Sarah Kane, Jon Fosse, Mark Ravenhill, Lars Noren, Roland Schimmelpfennig, além de óperas de Tchaikovski, Strauss e Weber, bem como de Hans Werner Henze, Jörg Widmann e Jörn Arnecke. É encenador residente do Schaubühne, em Berlim, desde 2000, e trabalhou como freelancer em teatros renomados de Viena, Hamburgo, Zurique, Salzburgo, Bruxelas, Oslo, Frankfurt, Berlim. Encetou colaboração com a coreógrafa Anouk van Dijk há mais de dez anos, criando a produção "Nothing Hurts" (1999).
Na sua Obra, Richter procura o confronto com a realidade, com o mundo actual, com as contradições, paradoxos e absurdos do paradigma político e económico mundial, na sua busca incessante de crescimento económico e aceleração da existência individual. Os textos de Richter promovem perspectivas críticas sobre questões sociais, económicas e políticas, apreendem e descrevem os efeitos do sistema neoliberal, da sua ideologia, assim como o efeito das tecnologias sobre o indivíduo, sobre os pensamentos, sentimentos, linguagem e comportamentos individuais. Relata um mundo em que a ideologia do mercado e as ideias de eficiência, aceleração e excelência penetram todas as dimensões da existência humana, seja no trabalho, no amor, nas relações sociais.
Os protagonistas das obras de Richter são pessoas que vivem, trabalham e amam globalmente, que estão conectadas e que ao mesmo tempo parecem ter perdido as suas raízes ou o seu sentido de pertença. Pessoas que vivem da internet, da virtualidade, que se controlam permanentemente a imagem que passam aos outros e as interacções que mantêm com os outros. Indivíduos solitários em busca de reconhecimento, proximidade, amor, que logo vacilam, assustam-se, recuam no isolamento emocional ou na eterna busca por mais e melhores opções. Frieza, colapso, medo da solidão, medo do entorpecimento ou do vazio são metáforas e referências recorrentes numa Obra cuja linguagem é muitas vezes composta como uma partitura musical, revelando estados de hiperaceleração, histeria, pressão e esgotamento nos seus ritmos subjacentes. Ao mesmo tempo, a ironia, o humor e o absurdo revelam a complexidade paradoxal e muitas vezes o ridículo do nosso mundo hipercivilizado no início do século XXI.
O trabalho mais recente de Richter analisa a ruptura nas sociedades ocidentais que parecem divididas entre a agudização do liberalismo, mais abertura e igualdade, e, por outro lado, a mudança impulsionada pelo crescimento do populismo reaccionário de extrema-direita, acompanhados do crescimento da xenofobia, da homofobia, do sexismo e do fundamentalismo religioso.
Muitos dos projectos recentes de Falk Richter interligam diferentes formas e disciplinas de arte. A música é importante tanto para seus textos quanto como elemento no palco. Das letras de músicas pop às composições e ritmos electrónicos de alta complexidade, o leque é amplo, mas a música é motor, impulso e inspiração nas suas produções. Coreografia, dança e movimento tornaram-se determinantes no trabalho recente de Richter. Todas as suas colaborações com Anouk van Dijk ou com o coreógrafo Nir de Volff reúnem actores e bailarinos, texto e movimento, e confundem as fronteiras entre diversas disciplinas: uma pode assumir a liderança, servir ou contradizer a outra; tanto a harmonia quanto os contrastes são características do seu trabalho teatral com a dança. O espaço de ensaio torna-se um laboratório no qual diferentes formas de expressão artística se encontram, comunicam e questionam umas com as outras, unindo forças para explorar territórios desconhecidos.
Richter também colaborou internacionalmente, por exemplo, com o actor e encenador francês Stanislas Nordey, nomeadamente em “My Secret Garden” (Festival d'Avignon, 2010) e “Je suis Fassbinder” (Théâtre National de Strasbourg, 2016).
“Às duas horas da manhã” (Zwei Uhr nachts), que o Teatro da Rainha levará à cena este ano com encenação de Fernando Mora Ramos, estreou a 1 de Fevereiro de 2015 em Frankfurt.

(A partir do sítio do autor.)

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