quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

UM POEMA DE FERNANDA BOTELHO

 


HABITAT

Foi numa crise, plácida como um rosto
de nenhuma expressão.
Foi a reticência parda do sol-posto
a tornar calmo e frio o meu serão.
Foi, a seguir, aquele riso escancarado,
obtuso,
caindo como horas dum relógio sem uso
num solar fechado.
Fosse o que fosse :
veio e trouxe
a suspeita perpendicular de que só existo
— para isto.

Fernanda Botelho, in As Coordenadas Líricas, Távola Redonda, 1951, p. 34.

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