Começa por surgir à mão, num caderno. Com o tempo, as
coisas vão ganhando forma e arruma-se tudo em Word. Distribuis, revês, cortas,
recortas, acrescentas, mudas, experimentas. Talvez solicites uma leitura a um
amigo ou dois. E mediante o que eles dizem ou calam, voltas a misturar, a
refazer, pensas, repensas, baralhas, reordenas. Leva um tempo danado até que
dês por concluído o trabalho. Decides então mostrá-lo ao mundo, entregas a um
editor ou a uma amigo que o pagine. Chegam as provas. Revês o miolo, aprecias a
capa, as pinturas interiores concebidas por uma amiga, a generosidade de quem
foi teu cúmplice em mais um gesto. E no miolo corriges o que há a corrigir até
chegarem novas provas para novas correcções e mais provas que corrigirás
certamente, porque há sempre qualquer coisa que descobres. Depois há o lado
burocrático da coisa, o lado burocrático da coisa exige registos, orçamentos. E
aí estão as artes finais. Pedem correcções, reenvias com alterações, novas
artes finais, renovadas artes finais. Até que a tinta começa a ser disparada
contra o papel e tu ficas à espera, aguardas. Até que o produto te chegue às
mãos, passaram anos, horas e mais horas de trabalho. O que sobra da caligrafia
inicial? É este o maior desespero, garantir que a caligrafia inicial não se
perde. Que jamais se perca a caligrafia inicial, ela é o sangue das palavras.
Que não se perca. Nunca.
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