Disse Pedro Passos Coelho num comício da
AD:
Enquanto líder da oposição, em
2016, Passos defendeu "um país aberto à imigração", mas considerou
que é preciso ter "cuidado" para ter um "país seguro".
"Na altura, o Governo fez ouvidos moucos disso, e na verdade hoje as
pessoas sentem uma insegurança que é resultado da falta de investimento e de
prioridade que se deu a essas matérias. Não é um acaso", sustentou.
Esta relação entre imigração e
insegurança, constante no discurso do Chega, é a parangona mais repetida da
direita xenófoba europeia. Lamentavelmente, a AD permite-se adoptar este
lamaçal, baseado em mentiras e falsas percepções. Vários estudos demonstram não
haver relação nenhuma entre crime e imigração, a não ser o aumento dos crimes
sobre imigrantes que a xenofobia e o racismo, o discurso de ódio e o medo
induzido pelo populismo de gente como Ventura e Passos Coelho provocam. Tome-se
de exemplo este estudo da Universidade de Coimbra, um entre vários que podiam
ser citados:
No mundo actual, sempre que há
ondas de criminalidade, os imigrantes são os primeiros a ser acusados,
independentemente da comprovação da sua culpabilidade. Também em Portugal foi
muito publicitado o crime violento, ocorrido nos últimos anos, em correlação
com o aumento do número de imigrantes. Além da designação de crimes violentos
não ser consensual, existem poucos estudos que se debrucem profundamente sobre
este assunto. Os produzidos até hoje chegam mesmo a contrariar esta percepção.
Por exemplo, os últimos estudos norteamericanos (Stowell, 2007 e 2009, Sampson,
2006 e 2008) apontam precisamente para uma relação de aumento de imigrantes –
descida de registos de crimes violentos, o que é inverso ao publicamente
percepcionado. Em Portugal, tem vindo a aumentar a proporção de reclusos
estrangeiros e imigrantes nos últimos anos, fenómeno que acompanha o aumento da
população imigrante, pelo que não se constata relevância nesta subida. Depois
de aplicado o teste estatístico do qui-quadrado, veio a verificar-se que, no
geral, os imigrantes têm uma menor intervenção no crime violento em Portugal do
que a população autóctone.
Manipuladores como Ventura e Passos
Coelho gostam de brincar com o fogo porque sabem que não vão queimar-se, na
mesma medida em que legitimam acções violentas sobre os imigrantes. Basta olhar
para os portugueses de bem que integram a comitiva do Chega, como por exemplo
um tal de Fábio Lemos, preso por violência xenófoba contra um brasileiro em
Braga. Diz notícia do Público: «O pernambucano, engenheiro com
nacionalidade portuguesa, ficou com uma costela partida e o rosto desfigurado
após ter sido pontapeado repetidamente.» Outro exemplo: «Vítor
Ramalho, empresário agrícola e ex-candidato do Chega à freguesia de Póvoa de
São Miguel (Moura), foi, no ano passado, acusado pelo MP de tentar matar a tiro
um casal de imigrantes, tendo-lhe sido apreendidas 13 armas.» Podiam
continuar. O discurso de ódio começou por ter como vítimas preferenciais os
ciganos, estendendo-se rapidamente aos indianos, aos muçulmanos e aos
brasileiros. O ódio aos brasileiros enche neste momento a rede X, com posts
consecutivos sem qualquer tipo de filtros.
O ambiente social, o clima que já está
instalado em Portugal e tende a piorar, promovido e legitimado pelos
discursos de Ventura e, agora, Passos Coelho num comício da AD é uma autêntica
bomba relógio que o Estado de Direito e a Democracia não podem deixar
deflagrar. Portugal foi sempre um país de emigrantes. Cito:
Portugal tem a taxa de população
emigrada mais alta da União Europeia, a população regrediu uma década
encontrando-se agora abaixo dos 10,5 milhões, o número de trabalhadores
dependentes aumentou, mas a ligação à entidade patronal tornou-se mais
precária, Portugal é o quinto Estado-membro onde as contribuições sociais menos
pesam no financiamento do sistema de protecção social, a dimensão média das
famílias portuguesas desceu de 3,3 para 2,6 pessoas, na última década, Portugal
foi o país em que o peso das remunerações líquidas no rendimento disponível das
famílias mais caiu, o nível de vida dos portugueses recuou, em 2013, para valores
de 1990, ficando 25% abaixo da média europeia, o PIB 'per capita' português
caiu 7% face ao padrão europeu e o nível de vida das famílias regrediu mais de
20 anos, Portugal foi o país europeu que registou maior aumento na fiscalidade
entre 2010 e 2013, com a carga fiscal a subir mais de 11%, Portugal é também o
Estado-membro em que os juros absorvem uma maior proporção da riqueza criada e
o décimo que mais gasta em prestações sociais…
É só um resumo, desses tempos em que
Pedro Passos Coelho governou. Deixo aos senhores jornalistas umas sugestões de
perguntas para fazerem a André Ventura e aos líderes da AD:
Quantos portugueses vivem em
Portugiesenviertel, o bairro português de Hamburgo? E em Regents Park, sul de
Joanesburgo? E em Ironbound, Newark? E em Macaracuay, Caracas? E em Larochette,
no Luxemburgo? E em Täsch, na Suíça?
Tenham vergonha, se não querem ficar com a língua manchada de sangue.
1 comentário:
O tema da migração é bem mais sério do que aquilo que os meios propaganda fazem dele.
É um assunto que toca a todos. Porque será que quando falamos de migração somos levados a por de parte a técnica ancestral de engenheira social conhecida como plantação? Havia que perguntar quem são os portugueses? Os ciganos, os alentejanos, os descendentes de cabo-verdianos, angolanos ou timorenses que nasceram em portugal? Ou qualquer ser humano com um passaporte que lhe outorga esse estatuto? Quem são os portugueses e em que está baseada a definição de português? Quem a define? ...o aparelho criminoso do estado? Ou o braço legislativo ao serviço do cartel representativo? São os portugueses aqueles que permitem que outros milhares de portugueses sejam empurrados daí porque não há espaço nem alimento para eles? Existem muitas perguntas que deveriam ser debatidas em pessoa e não nessas merdas sociais feitas de écrans e seres fantasmas.
Sempre que sai um ou uma portuguesa porque não se conseguiu alimentar a si e aos filhos existem 10 milhões de responsáveis porque não souberam organizar nem cooperar.
O chega, ou o partido do chega como todos os outros partidos não são mais do que bitolas da ignorância e medidores da alienação dos povos. Servem só para isso, não representam nem estão estruturados para representar mais do que os que à volta deles de alimentam.
Já agora, o palhaço de serviço do chega tem mais aspecto de turco sem carácter do que qualquer português com rasgos africanos. No dia em que desligarem os meios de propaganda, ou seja o circo, acabam-se os palhaços e os donos do circo.
Saúde!
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