domingo, 3 de março de 2024

ALGUMAS ABRASIVAS

 


   Fazer vinho é dar corpo à memória, resgatar do silêncio e do esquecimento uma voz primordial que se perdera.

   Apesar do peso, o casco de bom vinho merecia ganhar asas e voar.

   Vinho mau enruga a alma.

   Beber vinho começa por ser exercício de memória: terra e fruto, sol e suor; e não raro se converte em alegre mas fugaz deslembrança.

   Água e vinho: dois amigos inseparáveis. Para o ébrio, dois irmãos para sempre desavindos.

João Pedro Mésseder, in Guias Sonoras e outras abrasivas, com posfácio de Ana Margarida Ramos, Deriva, Novembro de 2010, pp. 33-34.

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