domingo, 15 de setembro de 2024

UM POEMA DE RAQUEL SEREJO MARTINS

 


SUBÚRBIOS DE VENEZA

Choveu tanto
e, mesmo com o chão da cozinha molhado,
não acordei em Veneza.
Chove assim há mais de um mês
e quando chove muito entra sempre água pela marquise.
Chove e aqueço água para um chá
enquanto de esfregona recolho a água do chão,
enquanto penso no que vou vestir,
as gavetas da cómoda vazias de roupa lavada,
o cesto cheio de roupa suja,
enquanto penso o quanto não queria, com esta chuva,
ir para a paragem do autocarro,
ir para o trabalho,
vir do trabalho, chegar a casa sem ti.

Raquel Serejo Martins, in Subúrbios de Veneza, desenhos de Ana Cristina Dias, Poética Edições, 1.ª edição: Setembro de 2017, 2.ª edição: Janeiro de 2023, p. 85.

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