AS TRAPEZISTAS
Correram na direcção uma da outra,
subiram juntas ao ponto mais alto
Sapho não sabia que Átis estava presa
por um fio elástico
que a devolvia ao ponto de partida
Sapho, liberta, lançava-se no voo
Átis, a dos seios floridos,
nada sabia da sua invisível prisão
Frente a frente, olharam-se:
era o sinal
Átis receberia Sapho nos seus braços
para o balanço de um novo voo
As luzes da tenda gigante eram agora
estrelas agitadas
Lançaram-se, com a justa diferença de segundos,
uma outra
No espaço turvo de poeira,
o silêncio inquietava-se
No momento exacto em que Átis tomaria Sapho nos braços,
o elástico puxou-a de volta
Diz quem viu
que foi o voo mais belo,
como belos são os voos solitários,
as mortes
Sapho não caiu
Diluiu-se no pó da noite
deixando um astro a pairar
sobre o coração de Átis
Ana Zanatti, in As Trapezistas, Abysmo, Agosto de 2024, pp. 43-44.
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