quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

A MORTE HÁ-DE CHEGAR

 
O passado já foi, perdurará na memória o que tiver de perdurar. O futuro avizinha-se a cada segundo que passa, sem planos que as circunstâncias possam trair, apenas projectos e a vontade de encontrar vontade para os concretizar. Este não será o tempo distinto das grandes decisões, sobre ele paira a nuvem inextinguível da finitude para nos lembrar da sombra em que caminhamos dia após dia. A morte há-de chegar com a promessa do silêncio, das dores finalmente vencidas, das dívidas saldadas, de uma vida cumprida entre outras vidas que o esquecimento se encarregará de extinguir. Até lá, em cada hora sentiremos o cansaço de estarmos vivos, o desconsolo e a insatisfação de sermos vulgares, e sacrificaremos a melancolia com gestos efémeros de gozo. Se finalmente aprendermos a não antecipar o sofrimento, já podemos dar-nos por vingados.

Juraan Vink, "Diários".
Versão de HMBF.

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