Quem está aí? Está aí alguém? São perguntas que fazemos no escuro, quando pressentimos uma presença indefinida num som que escutamos, numa sombra que avistamos, num qualquer movimento obscuro para o qual não temos resposta. Percepções, portanto, como as sombras que os prisioneiros avistavam no interior da caverna platónica ou os sons escutados pela criatura do covil kafkiano ou as ilusões dos sentidos de que Descartes se serviu para nos lembrar de que a fiabilidade das percepções é muito discutível. Mas na pergunta "quem está aí?" reside também uma espécie de apelo desesperado, como quem pergunta está aí alguém que me veja, que me ajude, que note em mim, que se preocupe. Pois bem, o que a dúvida instaura é, precisamente, uma desconfiança sobre o que somos face ao outro, qual o lugar em que nos situamos na relação com o desconhecido, com o outro, esse que o individualismo e o egoísmo reinantes tornou cada vez mais distante. Entre mim e o outro foi erguido um muro de medo e de desconfiança, é esse muro que tem de ser destruído, a fronteira que nos separa e divide. Portanto, break down the walls.
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