domingo, 2 de março de 2025

O ESTÚPIDO SENSO COMUM

"É preciso perder o hábito e deixar de conceber a cultura como saber enciclopédico, no qual o homem é visto sob a forma de recipiente para encher e amontoar com dados empíricos, com factos ao acaso e desconexos, que ele depois deverá arrumar no cérebro como nas colunas de um dicionário para poder então, em qualquer altura, responder aos vários estímulos do mundo externo. / Esta forma de cultura é deveras prejudicial, especialmente para o proletariado. Serve apenas para criar desajustados, gente que crê ser superior ao resto da humanidade porque armazenou na memória uma certa quantidade de dados e de datas, que aproveita todas as ocasiões para estabelecer quase uma barreira entre si e os outros. Serve para criar um certo intelectualismo flácido e incolor, tão criticado por Romain Rolland, que pariu uma caterva de presunçosos e desatinados, mais deletérios para a vida social do que os micróbios da tuberculose ou da sífilis para a beleza e sanidade física dos corpos."
Antonio Gramsci, in "Il Grido del Popolo", 1916.
 
"O senso comum, o estúpido senso comum, prega usualmente que é melhor um ovo hoje do que uma galinha amanhã. E o senso comum é um terrível negreiro dos espíritos. Sobretudo quando para ter a galinha é preciso romper a casca do ovo."
Antonio Gramsci, "Três princípios, três ordens", La Cittá futura, 1917.
 
"Demonstrar que se vive, assegurar-se que existe, sentir bater o próprio coração e o pulsar das veias é já um sucesso, é o maior sucesso da vida."
Antonio Gramsci, "Analogias e metáforas", Il Grido del Popolo, 1917.
 
"Na vida, nenhum acto é isento de resultados e o facto de acreditar numa teoria e não noutra tem os seus particulares reflexos na acção; também o erro deixa vestígios, quando divulgado e aceite pode retardar (não decerto impedir) que se alcance uma finalidade."
Antonio Gramsci, "Utopia", in Avanti!, 1918.

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