Daqui a uns anos, vão pedir ao
Joãozinho que elabore uma redacção sobre o ano de 2025. Mais verbo, menos adjectivo,
será a modos que qualquer coisa como isto: «O ano de 2025 começou por ser muito
difícil para Carlos Costa Neves, que, nomeado secretário-geral do Governo, viu
o salário de 15 900 € ajustado para valores dentro da tabela legal. Pobre
Senhor Neves, a pagar para trabalhar. Um dia teremos de lhe fazer justiça encontrando-lhe
uma despensa no Panteão Nacional de Lisboa, onde descansará em paz ao lado dos
restos poeirentos de Eça de Queiroz.
Felizmente, o mundo tomou o
rumo certo com a reeleição do FIFA da Paz Donald Trump. A deportação de imigrantes,
a conquista da Gronelândia, os ataques cirúrgicos no Irão, na Nigéria e aos
navios venezuelanos, sempre de braço dado com o povo eleito na terra santa,
foram sinais de esperança para a população mundial, nomeadamente para os ucranianos
e os palestinianos, que agora podem servir cocktails a Elon Musk na Riviera do
Médio Oriente.
A Inteligência Artificial
veio, felizmente, substituir a Inteligência Natural, que não era assim tão
inteligente, o que se fez notar, desde logo, na necessidade de inventar uma
inteligência artificial mais inteligente do que a natural, dando início às
rescisões em massa de milhões de funcionários públicos que agora podem coçar as
virilhas no campus da inutilidade, enquanto fazem camas em aldeias piscatórias
submersas em mares de betão, a bem do turismo e da prática do golfe.
Felizmente, a tecnologia ofereceu-nos todo o tipo de robôs de conversação para
apoio psicológico. Obrigado Yana.
E não fosse o povo eleito,
nesses idos de 2025, o mundo estaria um caos. Foram eles, sempre um passo à
frente dos demais, que encontraram maneira de espiar jornalistas no WhatsApp,
antes de os fazerem desaparecer no terreno, para bem do povo que por eles
andava a ser ludibriado. Vivam os acordos de minerais, mais a liberdade de
expressão dos defensores da Palestina detidos e silenciados da Alemanha à
Califórnia, nesses baluartes da democracia e da liberdade de expressão, que a
culpa foi, era, é e será dos cubanos. Talvez tenham sido eles quem matou
Francisco, o papa nesse ano tombado no campo de honra da ICAR, outra
instituição a quem vamos devendo tudo o que há de bom e eficaz em matéria de
metodologias anticoncepcionais.
Em Portugal, 2025 foi um ano
de debate sobre as raízes da nossa cultura, plasmada já então na liderança
portuguesa em matéria de insegurança rodoviária. A nossa brava matriz cultural,
os nossos costumes, os nossos valores, o nosso DNA, também se reflectiram com
eloquência na agressão a um aluno autista na Moita, nas queixas de violência
doméstica e suas intermináveis vítimas, nos professores que se sentem vítimas
de bullying em ambiente escolar, nos Anjos a quem o acne ataca pelo riso, nos
governos sombra com pategos para todos os charcos, nas pessoas que dizem
irradicar em vez de erradicar, nas virtudes que passaram a virtualidades, nas
deserções que são desertações, na urbanidade que deu em urbanismo, na urologia
que era orografia, na necessidade imperiosa de dominar a língua portuguesa para
se ser herdeiro de Camões, nos Santos que apresentam telejornais, nos
comentadores polímatas, na cultura de mão dada com a juventude e o desporto, nos
apagões provocados por ciberataques russos que afinal eram problemas técnicos,
nos tontos que prometem devolver a Lisboa a sua raiz alfacinha, nos jovens que
consomem cada vez mais analgésicos, na filha que esfaqueou o pai, no miúdo que
matou a mãe, no dia da raça e da família ao som do Tony Carreira, nos media que
propagam ideais racistas, nos actores agredidos à porta da Barraca, nos
tudólogos que comentam a cor das gravatas, nos elevadores descarrilados sem
culpa nem responsabilidade, nas horas sobre horas com directos nos locais da
tragédia, nos influencers entrevistados em horário nobre por violação de
menores e atropelamentos e fuga, nas freiras católicas de minissaia, contra a
burca marchar marchar, nos incêndios que nunca mais acabam, nas revisões do
Código do Trabalho, nos 14 candidatos à Presidência da República, nas 365
entrevistas a Ventura num qualquer canal televisivo, porque é indiferente qual,
começaram a ser todos cada vez mais iguais uns aos outros, até termos agora um
único desdobrado em 5000, concentrados nas mesmas bolsas e sacos azuis.
Mas nem todos foram
fanfarrões. Os bons exemplos, nesse ano da graça de 2025, vieram de cima: um
anticomunista que roubava malas nos aeroportos e vendia o conteúdo das malas na
Vinted, um falsificador de assinaturas, investidores de 20 € em bóbós adolescentes,
abusadores sexuais e pedófilos, uma apagadora de emails, vários incitadores de
ódio, outros condenados por segregação racial, recitadores de nomes de crianças
em plenário, imigrantes ilegais metamorfoseados em políticos anti-imigração,
pedófilos instrutores de hipismo, porque eles diziam o país sabe, o país
conhece-me, o país percebe e o país percebia mesmo, teve um Presidente da Assembleia
da República à altura da sua pequenez, José Pedro lava mais Aguiar-Branco,
pode, pode, e pôde mesmo correr com o neto de sapateiro, eleger um consultor e
gestor de dados que reclama 1500 € por um fato Hugo Boss que custou metade para
que o país fique muito melhor independentemente dos portugueses estarem bem ou
mal, etc. Reforcemos o sapo mais os seus bodes expiatórios, porque se é para
termos mentalidade Ronaldo, como queria Montenegro, não nos falte dentro de nós
um Jedi, como pediu o Almirante. Os anos passaram, aqui estamos. Não vale a
pena andarmos com discussões filosóficas, todos ao Bürgerfest enfardar
hamburgers.
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