quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

2025 E AINDA NÃO ACABOU

 
Daqui a uns anos, vão pedir ao Joãozinho que elabore uma redacção sobre o ano de 2025. Mais verbo, menos adjectivo, será a modos que qualquer coisa como isto: «O ano de 2025 começou por ser muito difícil para Carlos Costa Neves, que, nomeado secretário-geral do Governo, viu o salário de 15 900 € ajustado para valores dentro da tabela legal. Pobre Senhor Neves, a pagar para trabalhar. Um dia teremos de lhe fazer justiça encontrando-lhe uma despensa no Panteão Nacional de Lisboa, onde descansará em paz ao lado dos restos poeirentos de Eça de Queiroz.
 
Felizmente, o mundo tomou o rumo certo com a reeleição do FIFA da Paz Donald Trump. A deportação de imigrantes, a conquista da Gronelândia, os ataques cirúrgicos no Irão, na Nigéria e aos navios venezuelanos, sempre de braço dado com o povo eleito na terra santa, foram sinais de esperança para a população mundial, nomeadamente para os ucranianos e os palestinianos, que agora podem servir cocktails a Elon Musk na Riviera do Médio Oriente.
 
A Inteligência Artificial veio, felizmente, substituir a Inteligência Natural, que não era assim tão inteligente, o que se fez notar, desde logo, na necessidade de inventar uma inteligência artificial mais inteligente do que a natural, dando início às rescisões em massa de milhões de funcionários públicos que agora podem coçar as virilhas no campus da inutilidade, enquanto fazem camas em aldeias piscatórias submersas em mares de betão, a bem do turismo e da prática do golfe. Felizmente, a tecnologia ofereceu-nos todo o tipo de robôs de conversação para apoio psicológico. Obrigado Yana.
 
E não fosse o povo eleito, nesses idos de 2025, o mundo estaria um caos. Foram eles, sempre um passo à frente dos demais, que encontraram maneira de espiar jornalistas no WhatsApp, antes de os fazerem desaparecer no terreno, para bem do povo que por eles andava a ser ludibriado. Vivam os acordos de minerais, mais a liberdade de expressão dos defensores da Palestina detidos e silenciados da Alemanha à Califórnia, nesses baluartes da democracia e da liberdade de expressão, que a culpa foi, era, é e será dos cubanos. Talvez tenham sido eles quem matou Francisco, o papa nesse ano tombado no campo de honra da ICAR, outra instituição a quem vamos devendo tudo o que há de bom e eficaz em matéria de metodologias anticoncepcionais.
 
Em Portugal, 2025 foi um ano de debate sobre as raízes da nossa cultura, plasmada já então na liderança portuguesa em matéria de insegurança rodoviária. A nossa brava matriz cultural, os nossos costumes, os nossos valores, o nosso DNA, também se reflectiram com eloquência na agressão a um aluno autista na Moita, nas queixas de violência doméstica e suas intermináveis vítimas, nos professores que se sentem vítimas de bullying em ambiente escolar, nos Anjos a quem o acne ataca pelo riso, nos governos sombra com pategos para todos os charcos, nas pessoas que dizem irradicar em vez de erradicar, nas virtudes que passaram a virtualidades, nas deserções que são desertações, na urbanidade que deu em urbanismo, na urologia que era orografia, na necessidade imperiosa de dominar a língua portuguesa para se ser herdeiro de Camões, nos Santos que apresentam telejornais, nos comentadores polímatas, na cultura de mão dada com a juventude e o desporto, nos apagões provocados por ciberataques russos que afinal eram problemas técnicos, nos tontos que prometem devolver a Lisboa a sua raiz alfacinha, nos jovens que consomem cada vez mais analgésicos, na filha que esfaqueou o pai, no miúdo que matou a mãe, no dia da raça e da família ao som do Tony Carreira, nos media que propagam ideais racistas, nos actores agredidos à porta da Barraca, nos tudólogos que comentam a cor das gravatas, nos elevadores descarrilados sem culpa nem responsabilidade, nas horas sobre horas com directos nos locais da tragédia, nos influencers entrevistados em horário nobre por violação de menores e atropelamentos e fuga, nas freiras católicas de minissaia, contra a burca marchar marchar, nos incêndios que nunca mais acabam, nas revisões do Código do Trabalho, nos 14 candidatos à Presidência da República, nas 365 entrevistas a Ventura num qualquer canal televisivo, porque é indiferente qual, começaram a ser todos cada vez mais iguais uns aos outros, até termos agora um único desdobrado em 5000, concentrados nas mesmas bolsas e sacos azuis.
 
Mas nem todos foram fanfarrões. Os bons exemplos, nesse ano da graça de 2025, vieram de cima: um anticomunista que roubava malas nos aeroportos e vendia o conteúdo das malas na Vinted, um falsificador de assinaturas, investidores de 20 € em bóbós adolescentes, abusadores sexuais e pedófilos, uma apagadora de emails, vários incitadores de ódio, outros condenados por segregação racial, recitadores de nomes de crianças em plenário, imigrantes ilegais metamorfoseados em políticos anti-imigração, pedófilos instrutores de hipismo, porque eles diziam o país sabe, o país conhece-me, o país percebe e o país percebia mesmo, teve um Presidente da Assembleia da República à altura da sua pequenez, José Pedro lava mais Aguiar-Branco, pode, pode, e pôde mesmo correr com o neto de sapateiro, eleger um consultor e gestor de dados que reclama 1500 € por um fato Hugo Boss que custou metade para que o país fique muito melhor independentemente dos portugueses estarem bem ou mal, etc. Reforcemos o sapo mais os seus bodes expiatórios, porque se é para termos mentalidade Ronaldo, como queria Montenegro, não nos falte dentro de nós um Jedi, como pediu o Almirante. Os anos passaram, aqui estamos. Não vale a pena andarmos com discussões filosóficas, todos ao Bürgerfest enfardar hamburgers.

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