quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

UM POEMA DE JOSÉ EMÍLIO-NELSON

 


NUMA IMITAÇÃO TORPE do ciclo feminino,
Após biópsia, sanguínea, borra de café, em golfadas, esborratam-se pétalas em poças de urinol.
(Tal intimidade de cor baça tinge-o, prostrado <,prostático>.)

Algaliado verte para saco plástico o mau cheiro amarelado.
De verga a verme, agora.
Postado, em suplício, o pénis na mudez do lençol do internamento, e do cateter,
Aguardará o latido do regozijo do sémen por melhores dias.

Depois de tudo,
Grão de iodo radioactivo, portátil, titânico na coisa ruim.
Implante de corola cilíndrica
No corpo mortificado por horas breves.

(A caligrafia cursiva da doença é miserável.)

José Emílio-Nelson, in Púrpura Senil, prefácio de Pedro Serra, desenhos de António Quadros Ferreira, Edições Esgotadas, Agosto de 2025, p. 56. 

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