Telheiras, Lisboa. 2011.
Ele disse que a melhor maneira de passar um dia quente de Julho era ficar deitado de manhã à noite num montículo de urzes no meio da charneca, com as abelhas a zunir no meio das flores, as cotovias a cantarem sobre a cabeça, e o céu azul sem nuvens com o sol quente a brilhar. Esta é a sua grande ideia de felicidade celestial; a minha era baloiçar-me numa velha árvore com ovento a soprar do oeste e nuvens brancas e brilhantes a passarem rapidamente lá em cima; e ouvir não só as cotovias mas também os tordos, melros, pintarrochos e cucos que ficam a cantar por toda a parte, enquanto a charneca se vê à distância, cortada pelos vales frescos e profundos; mais perto a relva comprida ondula com a brisa; os bosques, os riachos e o mundo todo vibra numa plenitude de felicidade. Ele queria ficar deitado num êxtase de paz; eu queria vibrar e dançar num jubileu de glória.
Disse-lhe que o seu paraíso seria uma coisa semimorta, e respondeu-me que o meu seria uma coisa de loucos; afirmei-lhe que adormeceria no dele, e retorquiu-me que não conseguiria respirar no meu, e a discussão começou a azedar. Finalmente concordámos em experimentar os dois assim que vier o bom tempo, beijámo-nos e ficamos outra vez amigos.
Imagem: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Emily Brontë.
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