sexta-feira, 14 de junho de 2013

«forçado a uma existência de miséria e reduzido ao presídio e às grilhetas»


Fábrica de Braço de Prata, 2012. Lisboa.
 
AQUELE HOMEM desejou-me longa vida...
De que serve ao prisioneiro vida prolongada?
Não é a morte melhor p'ra quem padece
E sente sem fim a vida atormentada?
E se outros esperam descobrir o amor
Meu único fito é encontrar a morte...
Deverei viver p'ra minhas filhas ver
Rotas, famintas, no vaivém da sorte?
Serviçais daquele cuja maior missão
Seria, tão-somente, anunciar-me
Afastar gente que me embaraçasse
Ou cavalgar, para, preparar-me
Tropas alinhadas, quando o pendão se levantasse,
Exausto de correr à frente e atrás
Se a desordem na fila se mostrasse?
O voto que alguém sinceramente faz
É feito p'ra valer, se de alma pura:
Possa aquele homem bom ser premiado
Que a vida lhe dê maior doçura.
Minh'alma achou conforto no que lhe foi dado
E na certeza de que nada dura.
 
 
Fotografia: Jorge Aguiar Oliveira.
Texto: Al-Mu'tamid.

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