No segundo volume de Textos de Guerrilha, Luiz Pacheco
incluiu uma recensão ao livro A Farsa da Europa (Claude Bourdet). Data o texto,
originalmente publicado no Diário Popular, de 9 de Novembro de 1978. É de
relembrar, passados mais de 35 anos, algumas das dúvidas aí formuladas:
Bourdet não é contra a Europa, não é um xenófobo, mas um
europeu convicto. (…) Com estas credenciais, Claude Bourdet ainda se abona de
ter participado nas primeiras tentativas, logo em 1946-47, no sentido da
construção europeia. Estas iniciativas de esquerda provinham da franja, ainda
muito limitada nessa altura, dos socialistas e progressistas que rejeitavam a
divisão do mundo em dois blocos, os primeiros prosélitos do não-alinhamento.
Porém, para Bourdet e outros, a Europa só representava um objectivo válido se
fosse uma Europa dos trabalhadores, impedindo o regresso ao poder do
capitalismo europeu. O que aconteceu? Alargando-se o movimento, os novos
participantes pensavam que era preciso começar por fazer a Europa e que o socialismo
viria, eventualmente, depois. Este eventualmente, com seu quê de milagroso ou
fortuito, se Deus quiser ou pode ser que calhe, desviou-me das preocupações de
Bourdet para outras, nossas e prementes. Não é que andamos, vai para cinco
anos, numa via socializante em que, no dia-a.dia, vamos assistindo ao derrube
insolente e não poucas vezes brutal, até sangrento, das estruturas — as poucas
mas eficazes —socialistas, instituídas até ao VI Governo Provisório? E a
continuar assim eventualmente se chegará a algum socialismo? Claude Bourdet
parece estar tão a par da situação nacional que, já em 1977 —data da publicação
deste livro em França —, escrevia:
«…um partido socialista reconvertido ao Molletismo e
telecomandado por Bona e, através de Bona, por Washington, à maneira do Partida
Socialista Português.»
(…)
Numa linguagem que alia à facilidade de comunicação uma
força de argumentação solidamente informada, Claude Bourdet vai desmontando
patranhas da propaganda capitalista, vai-nos certificando que os três mitos — o
da integração europeia, o da segurança atlântica e o da defesa nuclear francesa
— estão a conduzir a uma situação ainda mais grave, a qual é a da eleição do
parlamento europeu por sufrágio universal e, daí, a um executivo supranacional,
que não deixará de ser cupulado pela direita e pelos alemães.
A história veio dar razão aos avisos de Claude Bourdet e
à leitura de Luiz Pacheco, assim como dará ao manifesto dos 74+74.
Eventualmente, os mais populares comentadores de economia na imprensa
portuguesa estarão velhos e caducos. Ou então são simplesmente pueris.
Sem comentários:
Enviar um comentário