No ano passado morreram quase mais 24 mil pessoas do que
as que nasceram, leio no Público. Há dias, lia que a emigração levou-nos um
quinto dos trabalhadores qualificados. Em 2012, o número de emigrantes foi
superior ao total de nascimentos. Ficam os velhos. Sem ter onde ir, o Governo vai às reformas dos velhos, quebra com os cidadãos um
contrato que os sujeitou a uma vida de trabalho na esperança de uma velhice
sossegada. Resume-se o sossego a contar tostões para sustentar famílias
sobrecarregadas com o desemprego dos filhos, os que ficam, arrumados em casa
dos pais, sem perspectivas de futuro. Ter filhos tornou-se uma ambição luxuosa,
constituir família um pesadelo a evitar. Ganham com isto algumas empresas que
se aproveitam das fragilidades sociais para imporem salários miseráveis e todo
o tipo de abusos. Temendo o desemprego, os trabalhadores sujeitam-se a horas extraordinárias
não pagas. É trabalho gratuito, uma actualização da escravatura. Algumas feridas
dos bancos foram estancadas, as assimetrias agravam-se a toda a hora. Cada vez
mais, um núcleo reduzido de pessoas detém toda a riqueza. A maioria sobrevive
de migalhas. Milhares de licenciados arrastam-se por todo o tipo de actividades
em condições precárias que oferecem aos mais jovens uma trágica realidade:
estudar para quê? A sociedade estupidifica-se, desinteressada do saber e da
cultura, para todo o efeito actividades inúteis que não levam a sopa à mesa.
Quem pode, quem consegue, esquiva-se ao palco onde o drama é representado. Economia
paralela subiu para 26,7% do PIB, um em cada dez portugueses comprou bens ou
serviços na economia paralela, revelam as estatísticas mais animadoras e, como
é óbvio, sempre eufemísticas nestes domínios. Uma classe política incólume
enriquece à custa de favores, salta do Estado para empresas privadas numa
promíscua relação de interesses. Prática reiterada à qual já nem se chama
corrupção, são oportunidades de uma vida. Quanto à corrupção estamos falados,
as prescrições aí estão nas parangonas da imprensa a dar nota da justiça que
nos cerca. Uma justiça desvairada, enceguecida pelos pós mágicos dos grandes
escritórios de advogados. Portugal não é para quem quer, muito menos para os
portugueses, é para quem pode. Perante isto, que interpretação fazer dessa
expressão “saída limpa” que envaidece o actual Governo? Saída limpa? Nesta
imundície?
3 comentários:
Este país não é para velhos...
Recomenda-se o protesto sujo à moda do IRA
Ora bem, Marina. Neste momento, não vejo outra via.
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