Ricardo Salgado, esse doce de pessoa que um dia espantou o
país com seus lapsos de memória (esquecer-se de declarar nove milhões ao fisco não
é para qualquer Alzheimer), aparece no The Financial Times com cara de Metralha.
Aos quadradinhos, só mesmo a metáfora – que neste país os Metralha passeiam-se
como passarinhos a vida inteira. O homem para quem os portugueses preferiam o
subsídio de desemprego a trabalhar era uma espécie de Jonet dos bancos (não
propriamente dos alimentares), que ainda recentemente veio confrontar de novo o
mundo com as suas peculiares perspectivas da pobreza: «Há profissionais da
pobreza em Portugal». Pois há, e talvez se chamem Salgado e sejam metralhas
(sic) e tenham famílias numerosas. A beta do Banco Alimentar certamente andará
incrédula com a desgraça em que caiu a família Espírito Santo, a boa família
Espírito Santo. E nem lhe passará pela cabeça que profissionais da pobreza são
quem torna o país mais pobre, quem o rouba, quem o trai, quem o vigariza e
saqueia com suas fraudes milionárias. Convém nunca esquecer que antes de ser
tratado como Metralha o bom Ricardo foi condecorado e premiado com invejável
recorrência:
Foi nomeado Economista do Ano, pela Associação
Portuguesa de Economistas (1992) e Personalidade do Ano, pela Câmara
Portuguesa de Comércio do Brasil (2001). Recebeu as condecorações de Cavaleiro
da Ordem Nacional do Mérito (1994) e da Ordem Nacional da Legião de
Honra (2005), de França, e a de Grande-Oficial da Ordem Nacional
do Cruzeiro do Sul (1998), do Brasil. Em 2012, foi condecorado Commander's
Cross Order of Merit da República da Hungria e distinguido na
categoria Lifetime achivement em Mercados Financeiros nos Investor
Relations and Governance Awards 2012, iniciativa da Deloitte que
distingue as melhores práticas no sector empresarial. Em julho de 2013 foi-lhe
atribuído o douturamento Honoris Causa pela Universidade Técnica
de Lisboa, tendo sido distinguido por serviços prestados à Economia, Cultura, Ciência e
à Universidade.
Curriculum apreciável de um homem exemplar, apesar de Metralha,
apesar de esquecido. Enfim, sabemos agora, nunca é tarde para descobri-lo, quem
é um dos irmãos Metralha. Mas quem serão os outros? E quem é o Tio Patinhas
nesta história? Aguardamos pacientemente os próximos episódios, cada vez mais
desconfiados dos bons currículos desta malta profissionalizada em…
esquecimentos.
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