domingo, 14 de setembro de 2014

PROFISSIONAIS DA POBREZA


Ricardo Salgado, esse doce de pessoa que um dia espantou o país com seus lapsos de memória (esquecer-se de declarar nove milhões ao fisco não é para qualquer Alzheimer), aparece no The Financial Times com cara de Metralha. Aos quadradinhos, só mesmo a metáfora – que neste país os Metralha passeiam-se como passarinhos a vida inteira. O homem para quem os portugueses preferiam o subsídio de desemprego a trabalhar era uma espécie de Jonet dos bancos (não propriamente dos alimentares), que ainda recentemente veio confrontar de novo o mundo com as suas peculiares perspectivas da pobreza: «Há profissionais da pobreza em Portugal». Pois há, e talvez se chamem Salgado e sejam metralhas (sic) e tenham famílias numerosas. A beta do Banco Alimentar certamente andará incrédula com a desgraça em que caiu a família Espírito Santo, a boa família Espírito Santo. E nem lhe passará pela cabeça que profissionais da pobreza são quem torna o país mais pobre, quem o rouba, quem o trai, quem o vigariza e saqueia com suas fraudes milionárias. Convém nunca esquecer que antes de ser tratado como Metralha o bom Ricardo foi condecorado e premiado com invejável recorrência:

Foi nomeado Economista do Ano, pela Associação Portuguesa de Economistas (1992) e Personalidade do Ano, pela Câmara Portuguesa de Comércio do Brasil (2001). Recebeu as condecorações de Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito (1994) e da Ordem Nacional da Legião de Honra (2005), de França, e a de Grande-Oficial da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (1998), do Brasil. Em 2012, foi condecorado Commander's Cross Order of Merit da República da Hungria  e distinguido na categoria Lifetime achivement em Mercados Financeiros nos Investor Relations and Governance Awards 2012, iniciativa da Deloitte que distingue as melhores práticas no sector empresarial. Em julho de 2013 foi-lhe atribuído o douturamento Honoris Causa pela Universidade Técnica de Lisboa, tendo sido distinguido por serviços prestados à Economia, Cultura, Ciência e à Universidade.


Curriculum apreciável de um homem exemplar, apesar de Metralha, apesar de esquecido. Enfim, sabemos agora, nunca é tarde para descobri-lo, quem é um dos irmãos Metralha. Mas quem serão os outros? E quem é o Tio Patinhas nesta história? Aguardamos pacientemente os próximos episódios, cada vez mais desconfiados dos bons currículos desta malta profissionalizada em… esquecimentos.

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